Seis dias marcantes na vida de gente comum conectada por um fio,
humanidades expostas e primeiras impressões que podem não se confirmar. Se fosse cinema, o
novo livro de Larissa Mundim seria um longa-metragem rodado em plano sequência.
Dedicado a Vinicius de Moraes, o romance de ficção Agora eu te amo será lançado, em Goiânia/GO, no próximo sábado
(29/11), às 20 horas, no Evoé Café (Rua 91, 489, Setor Sul).
Publicado pela Nega Lilu Editora, com apoio
institucional do Fundo Estadual de Arte e Cultura, a obra continua a “escavação”
da autora em torno da temática abordada em seu primeiro trabalho literário, Sem Palavras (2013): a busca do Amor no
nosso tempo. “Este
novo livro deseja compartilhar percepções colecionadas na observação do
processo contínuo de deslocamento do Amor, em um espaço onde o momento deve ser
vivido com intensidade”, comenta Larissa Mundim. Desta vez, enredada por 10 personagens,
a história transcorre por territórios alusivos ao narcisismo nas mídias
sociais, crossdressing, tentativa de suicídio,
dependência afetiva, entre outras possibilidades.
Quando a história começa, é como se o leitor já
estivesse perdendo alguma coisa. “Agora
eu te amo tem pressa”, afirma ela. O segundo livro da jornalista é escrito
no presente e faz menção à cibercultura e a tecnologias portáteis, um registro
de época, neste início de século. Sendo assim, alguns termos, bem como
equipamentos, comportamentos, meios de comunicação se tornarão obsoletos com
brevidade, datando o romance sobremaneira. “Uma opção consciente para uma obra
que reflete sobre o efêmero por meio de relações que têm prazo de validade
indefinido, mas certamente muito curto”, revela L. Mundim.
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Foto: Lu Barcelos |
Capturado pela autora, de forma descontextualizada
na escuta das ruas, o título faz menção à brevidade dos encontros afetivos bem
como à possibilidade de perpetuação da afetividade, a partir de experiências
que não duram pra sempre. “E a gente sabe que nada dura pra sempre. Gosto de
pensar que, trazido para o território ficcional, o título deste livro se
apresenta como intervenção no texto clássico: eu te amo”, conta.
Conceito
Em busca de
amadurecimento como romancista de ficção, outro desafio para a autora foi
trabalhar com vários perfis. Em Sem
Palavras existe uma construção densa de apenas duas personagens: Nega e
Lilu. Para Agora eu te amo, a ideia
era trabalhar com diversidade em tempo e espaço sintéticos, uma tentativa de exposição
máxima e instantânea, oferecendo ao leitor acesso a características muito
próprias, não superficiais, a partir de situações que revelassem esses
personagens sem necessariamente descrever o perfil de cada um. “Uma experiência
de conhecimento do outro muito vivenciada nas redes sociais, onde se acumula
informações a partir de um enredo que vai sendo costurado de forma fragmentada,
a cada post realizado”, explica a
jornalista, que realiza trabalho sistemático na web.
L. Mundim reconhece
que ainda não foi possível desvencilhar-se do universo de Nega & Lilu,
exaustivamente trabalhado em vivência artística do Coletivo Esfinge, ao longo
de três anos e meio, com incursões pelas Artes Visuais, Artes Cênicas,
audiovisual, Música e pela própria Literatura. “Muitas vezes não é necessário
negar uma obra para que a outra venha à tona, a temática simplesmente não se
esgotou e, apesar de não haver continuidade da história, o leitor atento pode
perceber sutilezas que conectam os dois trabalhos”, esclarece.
Entre outras
nuances, está a presença de Laura Passing (Nega) na narrativa. De passagem pela
nova história, é ela quem deixa com um dos personagens protagonistas um
calendário de bolso que, dragado da obra para a realidade, foi materializado e encartado
na página 106 para presentear o leitor com ousadia que é característica de Sem Palavras.
A surpresa indicada para
maiores de 18 anos confirma que Agora eu
te amo é tão sensorial quanto imagético e transita entre essas duas
variáveis, oferecendo ao leitor uma perspectiva quase que cinematográfica. Segundo
a autora, a fluidez, a clareza, a ambientação e a estruturação da narrativa
sugerem adaptação natural do romance para roteiro de filme.
Ponto de partida
Os caminhos para a escrita de Agora
eu te amo foram apontados pelo Projeto Ordinário. Era julho de 2012, quando
Larissa Mundim criou um laboratório virtual para experimentação literária, com
publicação diária nas mídias sociais. A proposta era
trazer para a convivência em rede “possibilidades de compartilhamento da poesia
disfarçada pelo borrão da rotina”.
À primeira vista, os textos curtos traziam
apenas situações ficcionais sugestivas de virossimelhança. Em seguida, foram se
tornando convites para a construção coletiva de histórias capazes de desvendar
mistérios comuns. A intensa produção desse conteúdo originou
capítulos inteiros de Agora eu te amo
e a manifestação dos leitores, no blog Nega Lilu, Facebook e Twitter, chegou a
indicar rumos da narrativa de forma insuspeita: temáticas foram eleitas e personagens
acabaram sendo empoderados.
O Projeto Ordinário é uma
ação do Coletivo Esfinge, grupo de mais de cem pessoas que, em todo o mundo,
protagoniza ações nas Artes Visuais, Artes Cênicas, Audiovisual e na
Literatura. Todo o registro do trabalho iniciado em 2009 pode ser encontrado em
www.negalilu.com.br .
Homenagem
Agora eu te amo foi concebido em 2013, ano de comemoração do
centenário de Vinicius de Moraes, o poeta e músico que, no período
pré-ditadura, difundiu no Brasil reflexões sobre o "eterno enquanto dura" (Soneto da Fidelidade, 1960). Em
espetacular fase criativa, pouco antes, havia lançado o revolucionário álbum
que é o marco da Bossa Nova, “Chega de Saudade” (1958), em parceria com João
Gilberto.
O breve recorte na história de Alceu Moreira, Maria
Tereza Santander, Fred, Poliana, Suza, Raul Messaros e Beto, Vilaça, Xana e
Dona Ivete foi escrito ao som de música popular brasileira de alta qualidade. A
poesia e as canções de Vinicius estão impregnadas na narrativa que tem o Amor
como fio condutor e sua obra é referenciada de forma sutil ao longo de Agora eu te amo. “Um desafio foi propor
o diálogo entre uma obra extremamente moderna, mas romântica, e a postura atual
da sociedade diante das relações amorosas”, completa a escritora.
A
autora
Larissa Mundim é autora do romance literário
de ficção Sem Palavras (2013), com colaboração de Valentina Prado,
e do blog Nega Lilu (www.negalilu.com.br). Jornalista e militante da Cultura e
dos Direitos Humanos. Diretora executiva da Nega Lilu Cia de Dança e fundadora do Coletivo e/ou (2014) e do Coletivo
Esfinge (2009), grupos atuantes nas Artes Visuais, Artes Cênicas, Audiovisual,
Literatura, Design e Comunicação. Diretora geral da Casa da Cultura Digital, criada em
2004, com a missão de difundir e fortalecer a cibercultura para o exercício da
cidadania.
SERVIÇO
Lançamento: Agora eu te amo (Nega Lilu
Editora)
29 nov 2014 (sábado) – 20 horas
Evoé Café - Rua 91, 489, Setor Sul –
Goiânia/GO
Valor: R$ 25,00