Parafraseando Os Mutantes, a fuga n° 2 da Nega a tiraria do cárcere do cajueiro colossal, mas antes, provocaria doce lembrança de menção a Secos & Molhados, no ato da primeira (e romântica) batida em retirada. Era carnaval.
Intimamente relacionado com experiências individuais, o ato de rememorar é o mesmo que criar e recriar, à medida que nos distanciamos do fato, em suas cores mais vibrantes. Evocar o passado sempre será acessar os sentidos por meio de subjetivação e ressignificação de imagens, sentimentos que permaneceram registrados, por motivos diversos.
Dizem os especialistas que a memória se manifesta nos limites do espaço e do tempo, no entanto, não se cristaliza, se mantém em movimento, fluida, flexível, atuando no presente para representar o passado sem reproduzi-lo. O que ocorre no momento de rememoração é muito mais uma interpretação da imagem, do texto, da emoção não esquecida, impactada pelo agora.
Pouca são as histórias inesquecíveis conservadas em detalhes e protegidas das variações da memória. O encontro de Nega e Lilu é uma dessas raridades, um registro precioso e cheio de minúcias que conduzirá as autoras ao passado numa base primária. Em outros estágios pode ser surpreendente o reencontro com palavras carregadas de sentido, imagens distorcidas pela cegueira, a transformação passional dos elementos de ficção originando enredos de fuga. Finalmente, a publicação do livro Nega Lilu permitirá, também para as autoras, o retorno contínuo a um ponto de partida seguro para novas interpretações. Que bonito isso.
Para o leitor comum ainda não sei como será.
Não estava apenas só, mas acordada e atenta transitando de cá pra lá, tomando água e desviando o olhar do entulho espalhado pelos cômodos que conheceram a impaciência da Nega. O chão do escritório estava todo recoberto de livros, revistas, jornais, uma série de antigas anotações de próprio punho que ainda faziam sentido. Distanciadas do frescor, haviam perdido a genialidade muitas ideias para cinema e literatura, amareladas.
Espirrou uma, duas e três vezes. Poeira no ar. Sentou-se no chão cercada de memória, afinal havia encontrado companhia: a coleção de postais, os panfletos da ação educativa de museus pelo mundo, catálogos de exposição de arte, contas pagas dos últimos cinco anos, disquetes com conteúdo devidamente identificado e inacessível, inúmeros CDs sem utilidade para o momento, listas de pendências, pasta com garantias vencidas, exames médicos, compromissos agendados de 2001 a 2007, cartões de visita de desconhecidos, certificados de conclusão de cursos e participação em congressos, registro fotográfico de manifestações estudantis, cartas da família e dos amigos que não releu, mas quis devolver pessoalmente aos remetentes. Elas podem ser terapêuticas, pensou. Porque a visita ao passado a partir de registros pessoais sempre pode ser um retorno revelador.
Abriu a esmo o livro de Eclea Bosi como quem busca consolo nas escrituras sagradas e, na página 55, releu: “A lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão, agora, à nossa disposição...”. Suspiro e espirro, seguidos daquela boa e velha sensação de luminosidade. Era hora de finalizar a edição do livro Nega Lilu, sem o qual sua alma permaneceria encarcerada num ciclo aberto.
Por dias a fio, a imposta relação com mais ninguém a conduziu à convivência com o que tinha, a si. Imagine o que é a solitária para alguém seduzida pela beleza da diversidade humana.
No cárcere, conviver consigo apenas trazia o conforto da ocupação de território próprio com potencial para se dissipar a partir do segundo em que a intimidade revelasse o desconhecido. Quebrou tudo em volta.
Encontrara-se e agora queria fugir correndo sem roupa em praça pública, no centro da cidade.
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!
Os gemidos, os sussurros e os desabafos ruidosos coabitam o cárcere, onde dia é noite.
Um conhecido perfume rescendendo logo no início da manhã chamou a Nega até a sacada. Há três dias completos sem respirar, consumida com afazeres de dentro, foi surpreendida por uma densa vegetação que havia se apropriado de todo o espaço ao alcance dos olhos. Inspirado em fábulas, era um cajueiro florido crescido o bastante para abraçar aquele edifício e ocupar onde houvesse o vazio, lançando-se agressivamente contra o azul. De onde a Nega observava era possível dizer que o sol tivesse se emaranhado naquela trama, podendo comprometer a chegada da noite.
Do emblemático Brasília Palace Hotel com vista para o prédio de Ruy Otake |
O Projeto Esfinge conta com apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Goiânia para montagem e estreia do espetáculo de dança Nega Lilu, com workshop e bate papo sobre o processo criativo que comenta, transforma e difunde o conto Sem Palavras. O resultado da seleção pública foi divulgado hoje e cria condições para que o trabalho seja apresentado, pela primeira vez, ainda em setembro ou outubro deste ano, no Espaço Quasar, centro de referência para a dança contemporânea no Brasil Central.
Parabéns a toda a equipe envolvida, em todos os sentidos, com todos os sentidos.
Cena do trio Nega Lilu com a bailarina e coreógrafa Valeska Gonçalves e Flora Crosara. Foto: Lu Barcelos. |
Entre os produtos artísticos gerados ou com perspectivas de geração pelo Projeto Esfinge, o romance literário de ficção Nega Lilu é, sem dúvida, aquele que traz conteúdo mais intenso. Toda essa carga não tem exatamente a ver com a linguagem artística ou com uma autoria mais talentosa, o momento em que o trabalho foi concebido é que foi determinante.
Há pouco mais de três meses da data prevista para o início da publicação diária do conteúdo do livro neste blog, sustento a dúvida de cumprir o combinado com o leitor desde o dia 3 de janeiro deste ano (leia A explosão da obra). Não haverá recalque capaz de impedir a exposição da humanidade em estado de graça ‒ porque diferente do blog, no romance “flor” é “xoxota” e às vezes “bucetinha” ‒, é muito mais a incerteza de que será feita justiça à história de Nega e Lilu por parte do público em geral. Especialmente diante da riqueza e porosidade da produção no entorno da obra primária, em ações como Mensagem na Garrafa (intervenção urbana), Corpo Papel (body art), ou do trio de dança. Talvez o livro mereça a produção de apenas uma ou duas cópias muito especiais, talvez eu conclua a edição da extensa obra apenas para poder dedicá-la à minha avó, como sempre planejei acerca de algo que eu viesse a produzir e que fosse relevante para a sociedade. Diante da incoerência, será preciso então pensar melhor sobre o assunto.
Independente da decisão a ser tomada nas próximas semanas, estarei atenta à minha (e também da Nega) dificuldade em fechar ciclos. É que, muito solitária, quando comecei toda a trama do Projeto Esfinge, reconheci que a porta de saída desse lugar, que pode ser o paraíso e o inferno, era justamente a materialização do livro e que tudo o que fosse construído e destruído no entorno dele seria argumento para que se chegasse ao fim. Mas eu estava enganada.
Aos 13 anos Laura Passing foi beijada por Rafael Murta, onde o muro fazia a curva, ao lado da caixa de correio. Baixinho e muito fofo, o garoto era mais novo que ela e havia se descoberto um garanhãozinho rockabilly em sua chegada recente à cidade.
As partes do corpo do rapaz que passaram descobertas diante dos olhos da Nega ela conhecia de cor. Aqueles pelos pareciam ter se formado ali sem constrangimento e tamanha desenvoltura sugeria exposição descontraída do bíceps enquanto tomava sorvete.
O contorno polido das unhas e o jeito de segurar na caneta para desenhar uma letra pouco masculina foi o que captou, inicialmente, a atenção da menina-moça. Mas ela caiu mesmo foi pelo seu jeito sensual de andar, que poderia virar dança sempre que estivesse conversando.
Sorria enquanto falava, mexia os quadris, ajeitava os cabelos brilhantes e fazia biquinho no tetê-à-tête, ressaltando a pinta milimetricamente colocada acima do decote do lábio superior. Era um homem espetacular que a Nega amou pelas vísceras, antes e principalmente depois daquele beijo sinuoso, urgente, com gosto de bala gelada.
Rafael nunca foi de Laura Passing. Ele era de ninguém naquele tempo. Aquele primeiro beijo tornou-se o único e foram amigos oficiais, quando a intimidade encontrou motivo para se instalar. A Nega era boa ouvinte e ele escrevia muitos textos, transbordando sentimento desejoso de sexo.
Um dia ‒ sempre existe um dia para quem sabe esperar, mas pode ser só isso ‒ a sós curtindo um som, o garoto rockabilly se colocava na posição do Romeu shakespeariano e a única que o compreendia e que o apoiava era a garota que continuava devorando com os olhos toda sua pele exposta ao sol. Afeita à literatura, a Nega se comparava à cachorra Baleia. Naquele início de noite, rolou beijo louco de fome que saiu da boca e foi ao ventre, encontrou a calcinha e interrompeu a amizade.
Se no íntimo tudo permanecia como estava, Lilu manteria distância no próximo trimestre, monitorando o assentamento das partículas do ar. Somente quando o processo de encontro consigo sofresse algum avanço faria contato em breve, ainda que breve, ou sumiria para sempre, por uns tempos.
Ela poderia ser geminiana ou capricorniana, mas não era. E desde aquele último encontro novas hipóteses sobre a flor de cajueiro seriam engano com potencial para detonar ironia involuntária. Certo mesmo é que a Nega, dentre diversas confissões, ouviu de sua amada duas coisas: a confirmação de que estava solteira no superlativo e que aquelas talvez fossem escrotas férias conjugais às avessas.
Gozando do benefício da dúvida, mas apostando na coerência que justificava o desaparecimento frequente de Lilu, a Nega encontrou ali legitimidade para dizer: quero ser sua mulher, caralho!, desejando não despertar ordinária e embotante sensação de reprise, mas o encanto de um déjà vu.
Amar daquele jeito fazia a Nega se sentir bastante ridícula. E naquela madrugada, perdeu o sono de vez, diferente dos dias em que os despertares contínuos cumpriam somente a função de aproximar sua alma à de Lilu, inconsciente.
Todas as palavras haviam sido ditas, o silêncio havia sido contemplado, uma hipótese remota teve confirmação e alguns mistérios foram parcialmente desvendados. Distanciadas há exatos 21 meses daquele beijo roubado, elas se apresentaram prontas para um novo momento da relação. Porque Lilu deixara o tempo passar quarando sentimentos e porque a Nega descobriu paixão por si mesma.
Compartilharam relatos de encontros e desencontros. Uma contou sobre recente desinteresse pelos triângulos como uma decisão de busca por plenitude. A outra se revelou iniciada nos prazeres de se cuidar da pessoa amada.
A Nega olhava pros olhos de Lilu, e não pra boca. Aquela conversa era melhor do que sexo.
Me matriculei na especialização em arte contemporânea da universidade federal. Como não fazia terapia na época, esse era meu melhor momento da semana. O tempo das aulas de Carlos Sena era marcado pelas batidas de meu coração juvenil maior de 30, em compasso acelerado entre o segundo e o milésimo de segundo. Eu tinha certeza de que ele me notava em sala de aula, mas minhas intervenções (algumas desconexas motivadas pela paixão) não eram suficientes para provocar clima de revelação.
Passada a fase mais ansiosa a gente já se ouvia sem interrupções de minha parte. Exibi as pernas tantas vezes, fiz menção aos museus pelo mundo, criei polêmica, plantei dúvidas éticas nas discussões de grupo. Era tudo tão sincero, tão visceral e nem sempre muito conveniente. Mas o amor conduz as coisas de forma meio desastrosa. Ainda bem que Woody Allen existe e sempre cuidou para que gente como eu tivesse justificativa plausível para ser assim.
― Desista de mim, aconselhou o professor, durante o intervalo da aula.
Fechei ciclo, finalmente, adquirindo uma obra de Carlos Sena, cinco anos depois. Uma mulher alva de olhos magnéticos e boca vermelha à espera de um sinal sob o véu translúcido. Ao fundo, aquele papel de parede hipnótico.
Eu estava solteira naquele sábado à tarde quando, assistindo ao jornal da Band, dei de cara com o maior artista plástico que eu conhecia dizendo ao repórter naquelas enquetes populares que o maior artista plástico do Estado que ele conhecia era Siron Franco, por uma série de razões que ele cuidadosamente pontuou e que o editor, respeitosamente, permitiu ir ao ar.
De boné e barba grisalha, tão atraente, era ele. Me abalou tanto a declaração quanto a imagem daquele que amei por tanto tempo sem nunca ter visto. Em 12 anos, incontáveis foram as ocasiões em que saí em busca de Carlos Sena sem saber onde buscá-lo, simplesmente o procurando com o intuito de me apresentar, de dizer a ele tudo o que eu sentia aqui dentro desde o dia em que me deparei com a obra Posto em Cena, e ela transformou minha vida de alguma forma inexplicável e irreversível.
Olhos nos olhos, eu diria a ele tantas coisas não preparadas, que um verdadeiro artista compreenderia como riqueza da expressão autêntica, descuidada, passional na essência, como as palavras que eu dedicaria a Lilu anos depois, sempre que possível. Nessa busca não metódica, mas sistemática, eu esperava encontrar aquele homem que faria da minha vida Arte.
Pelo crédito do telejornal eu soube que Carlos era professor da faculdade de artes da universidade federal e, no estado em que me encontrava, defini que no dia seguinte eu retomaria a caça temporariamente atenuada pela vida conjugal.
Naquele domingo solitário, fiz minha visita Macabea a um museu de arte, pela primeira vez. Saí logo cedo de casa para apreciar a cidade vazia, exatamente como fiz hoje.
A Semana de 22 era minha referência imagética mais presente, adquirida do conteúdo recém estudado para o vestibular, e lá encontrei muitas menções modernistas, executadas, no entanto, na década em que nasci. Circulei sem grande interesse, achando logo que não estava preparada. Foi aos 17 anos e recém chegada à capital que me deparei com Carlos Sena.
Ouvi um chamado vindo do canto esquerdo, assim que entrei na segunda galeria, e me detive absorta por tempo indeterminado diante daquela obra de arte. Duas mulheres andrógenas tão lindas, quanto brancas e magras, conectadas pelo coração por um fio. Cabelos negros tropicalistas adornam testas calvas, algo indígena e berlinense − depois eu viria a saber. Havia entre elas uma intimidade caseira.
Raptada em seguida pelo plano do fundo, examinei o papel de parede centímetro a centímetro, estudando a leveza do gesto do pintor. Próxima demais da tela, fantasiei que sentia o cheiro da tinta. Naquele primeiro encontro eu já sabia muito sobre Carlos Sena, queria então conhecê-lo e propor casamento.
O segredo da Nega não é aquele que se imaginava... afinal, não é mistério que seu coração bata forte por Lilu. O que estava guardado nos jardins secretos da Babilônia são as motivações que a mantêm e a manteriam conectada a esta e a qualquer outra história que se possa construir ou deixar que se construa, recorrentemente, até que ela consiga se destruir.
― Porque não me amo o suficiente, mas estou muito apaixonada por mim mesma. Sou a Nega e a Nega é tudo de bom.
― Porque não me amo o suficiente, mas estou muito apaixonada por mim mesma. Sou a Nega e a Nega é tudo de bom.
Quem tem um fake tem trabalho dobrado. Fico imaginando quem tem um harém fake com cinco ou seis esposas indianas. Ah! Isso não é vida. O entra em perfil e sai de perfil pra entrar de novo não tem fim. Ainda mais se o sujeito resolve falar com as esposas e as esposas responderem a ele. É conversa pra mil e uma noites de trampo.
No Facebook, eu tenho apenas duas contas: a minha e a da Nega. Como temos alguns amigos comuns, dia desses fiquei pensando se o fato de sair de minha conta pessoal e logar, em seguida, na conta fake não deixaria um rastro de pistas para que a minha verdadeira identidade fosse revelada.
Que bobagem, pensei, por que alguém prestaria atenção na minha movimentação e na relação que ela aparenta ter com a movimentação da Nega, sendo as redes tão entupidas de amigos desconhecidos? Também ponderei: Não deve existir ainda maluco que se ocupe de monitorar esse vaivém, mais comum do que a gente imagina, pra chantagear, estorquir grana. (mas que boa ideia! rs)
De qualquer forma, quando pintou a paranóia ‒ e fiquei atenta àquelas pessoas que poderiam, eventualmente, notar a chegada da Nega logo após a minha saída ‒ percebi que, se eu troco rapidinho de conta, ao entrar com outro perfil dou de cara comigo mesma (ou com o fake) e com aquela bolinha verde ainda acesa, criando ilusões. Pois nesse dia... na pele da Nega, me vi e decidi tentar um primeiro contato com meu self. Respirei. Chamei a mim mesma para um bate papo. Mas instantaneamente fiquei indisponível.
Quando entrei para o Movimento Estudantil uma das primeiras coisas que aprendi foi que na política e na luta pelas causas sociais melhor mesmo é mostrar a cara e nunca manifestar-se apocrifamente. Originária do grego Apokryphos, a palavra significa “oculto” ou “não autêntico” e, inicialmente, foi utilizada para classificar os documentos do início da era Cristã que ficaram excluídos da Bíblia Sagrada por terem sido considerados “ilegítimos”.
Os critérios de legitimidade foram definidos por um pequeno grupo de homens no poder, que habilitaram a si mesmos para eleger o que seria sagrado dentre aquelas escrituras de autoria da inteligência humana, tanto com brilhantismo quanto com limitação. Mas o que era pra ser só um parêntese já está puxando outro assunto, então vamos parar por aqui. O que quero realmente é provocar uma investigação acerca das razões para a manifestação apócrifa por meio do anonimato no blog Nega Lilu.
Dentre os 37 comentários até hoje publicados, dois deles não têm autoria assumida. A possibilidade de comentar livremente o conteúdo aqui disponível caracteriza um ato democrático que integra à obra pessoas que dedicaram seu tempo ao consumo desse trabalho artístico, que é realizado com dedicação e muito carinho.
Pra mim o aviso de novo comentário enviado pelo Blogger sempre chega como um alerta para que eu pare tudo o que estou fazendo, e pensando em fazer, para consumar um encontro com o leitor. Não me esquecerei do misto de susto e realização provocado pelo Paulo que registrou, em 07 de fevereiro, a percepção de que Nega e Lilu são reais para ele, a partir do texto Saudade.
Não tenho dúvidas de que a decisão de publicar um comentário no blog seja fruto de impetuosidade, porque não há obrigações envolvidas nessa relação. Somente essa atitude já confere ao texto do leitor legitimidade plena, se posso dizer isso sobre um espaço de portas totalmente abertas. O leitor pode não suspeitar, mas cada um desses testemunhos aponta, sutilmente, rumos objetivos e subjetivos para a construção diária da história de Nega e Lilu. Acho isso muito bonito, muito próprio de nosso tempo, e me faz crer que o Projeto Esfinge vem cumprindo seus objetivos.
Leitores convictos são os que nos presenteiam com comentários mais freqüentes. Destaque para Rody, companheiro que se manifesta ácido, festivo, estratégico. Tem Simone Rosa que dá o ar da graça quando tocada pela poesia da vida como ela é, que chora com a Nega maluca, que reposiciona Cora Coralina em seu coração ao ler Peladas na ponte. Os comentários também registram a movimentação de Lilu, em junho, ensaiando aproximação e morrendo na praia de Floripa.
E foi da Pipa, em Natal/RN, que Ramon acessou o blog, estimulado pela mensagem na garrafa que encontrou, deixada à deriva durante intervenção do artista plástico Mateus Dutra, que se apropria de fragmentos de texto do conto Sem Palavras, escrito por Nega Lilu. A ação originou repercussões no blog também em Goiânia/GO e Linz, na Austria. Todas assinadas, ainda que por um codinome.
Quando o alerta é para um comentário anônimo eu também paro tudo, mas confesso que preparo a alma para a leitura, porque logo terei mantido contato com o gesto impetuoso que encontrou razões para se materializar sem ser representado. E por si só chega até mim carregado de significado, podendo me violentar, me instigar, me encantar, me seduzir.
A consulta médica dermatológica da Nega narrada em Começa na superfície, uma crônica leve e fluida, bem humorada, fofa e ligeiramente debochada é também “nojenta”, segundo a percepção anônima formalizada no dia seguinte à morte de Lucien Freud. Foi bom saber. O ponto de vista traz diversidade para a convivência em sociedade e isso é muito saudável e não deve incitar a intolerância, que gera violência.
A onda da flodação (leia Em desagravo) já tinha se quebrado no dia 29 de julho, quando tive meu almoço interrompido pelo alerta Google: Anônimo. Novo comentário em Para não esquecer. Parar tudo, buscar o eixo, posicionar os ombros, abrir o email, ler a mensagem, chorar.
Sagrado é o que eu sinto. Eu, ser humano.
Dentre os 37 comentários até hoje publicados, dois deles não têm autoria assumida. A possibilidade de comentar livremente o conteúdo aqui disponível caracteriza um ato democrático que integra à obra pessoas que dedicaram seu tempo ao consumo desse trabalho artístico, que é realizado com dedicação e muito carinho.
Pra mim o aviso de novo comentário enviado pelo Blogger sempre chega como um alerta para que eu pare tudo o que estou fazendo, e pensando em fazer, para consumar um encontro com o leitor. Não me esquecerei do misto de susto e realização provocado pelo Paulo que registrou, em 07 de fevereiro, a percepção de que Nega e Lilu são reais para ele, a partir do texto Saudade.
Não tenho dúvidas de que a decisão de publicar um comentário no blog seja fruto de impetuosidade, porque não há obrigações envolvidas nessa relação. Somente essa atitude já confere ao texto do leitor legitimidade plena, se posso dizer isso sobre um espaço de portas totalmente abertas. O leitor pode não suspeitar, mas cada um desses testemunhos aponta, sutilmente, rumos objetivos e subjetivos para a construção diária da história de Nega e Lilu. Acho isso muito bonito, muito próprio de nosso tempo, e me faz crer que o Projeto Esfinge vem cumprindo seus objetivos.
Leitores convictos são os que nos presenteiam com comentários mais freqüentes. Destaque para Rody, companheiro que se manifesta ácido, festivo, estratégico. Tem Simone Rosa que dá o ar da graça quando tocada pela poesia da vida como ela é, que chora com a Nega maluca, que reposiciona Cora Coralina em seu coração ao ler Peladas na ponte. Os comentários também registram a movimentação de Lilu, em junho, ensaiando aproximação e morrendo na praia de Floripa.
E foi da Pipa, em Natal/RN, que Ramon acessou o blog, estimulado pela mensagem na garrafa que encontrou, deixada à deriva durante intervenção do artista plástico Mateus Dutra, que se apropria de fragmentos de texto do conto Sem Palavras, escrito por Nega Lilu. A ação originou repercussões no blog também em Goiânia/GO e Linz, na Austria. Todas assinadas, ainda que por um codinome.
Quando o alerta é para um comentário anônimo eu também paro tudo, mas confesso que preparo a alma para a leitura, porque logo terei mantido contato com o gesto impetuoso que encontrou razões para se materializar sem ser representado. E por si só chega até mim carregado de significado, podendo me violentar, me instigar, me encantar, me seduzir.
A consulta médica dermatológica da Nega narrada em Começa na superfície, uma crônica leve e fluida, bem humorada, fofa e ligeiramente debochada é também “nojenta”, segundo a percepção anônima formalizada no dia seguinte à morte de Lucien Freud. Foi bom saber. O ponto de vista traz diversidade para a convivência em sociedade e isso é muito saudável e não deve incitar a intolerância, que gera violência.
A onda da flodação (leia Em desagravo) já tinha se quebrado no dia 29 de julho, quando tive meu almoço interrompido pelo alerta Google: Anônimo. Novo comentário em Para não esquecer. Parar tudo, buscar o eixo, posicionar os ombros, abrir o email, ler a mensagem, chorar.
Sagrado é o que eu sinto. Eu, ser humano.
Instalei gratuitamente na semana passada uma ferramenta mais eficiente para o monitoramento estatístico do blog. Um dos dados mais importantes trazidos pelo Google Analytics é que quase metade do acesso de novos visitantes se encerrava à medida que o leitor se deparava com o aviso que eu, cuidadosamente, inseri sobre a presença de conteúdo adulto.
O tiro que saiu pela culatra era apenas uma tentativa de estabelecer uma comunicação sincera com o leitor logo de cara, mas na pesquisa informal que fiz entre colegas de trabalho eu entendi o que poderia estar impedindo o novo leitor de chegar mais perto, ultrapassando aquela barreira. Segundo eles, pode ser medo de acesso a imagens violentas ou de sexo explícito. Coisas assim, capazes de provocar impacto, mexendo com a gente de forma incontrolável.
Como o blog Nega Lilu não traz nada disso, abri mão da tela inicial e inseri abaixo do título um texto que apresenta em poucas palavras o tema que vem sendo tratado neste espaço democrático de expressão literária e de defesa dos direitos sociais: Um comentário sobre a plenitude do amor e a essência da vida. É isso que fazemos aqui, eu e um grupo de colaboradores envolvidos nas diversas ações do Projeto Esfinge, nas áreas de artes visuais, dança, audiovisual, fotografia, literatura, comunicação.
Já avançamos tanto que não há mais caminho de volta. O primeiro conteúdo foi publicado em 3 de janeiro de 2011 e, já completando o primeiro semestre de existência, o blog conta hoje com 220 posts, 6.937 visualizações de página até este exato momento, três seguidores e 37 comentários, sendo dois deles anônimos.
O Google Analytics revela ainda necessidade de investimento sistemático nas redes sociais como a forma mais eficaz de carrear acessos ao blog. Assim, numa estratégia de comunicação mais “agressiva”, o Facebook passa a ter nova função no trabalho de divulgação do Projeto Esfinge, o uso do Twitter está sendo repensado e, ao longo da semana, iniciamos a ocupação de todos os espaços existentes nesse universo (Sonico, Quepasa, Orkut, Twoo etc). Seguimos em busca de ilimitação.