Nova convocatória para o gozo coletivo

terça-feira, junho 27, 2023

Foto: Atividade da oficina de escrita poética neobeat, conduzida por Rico Lopes

Encontrei uma pista para criar um novo romance ficcional, em 2019, e aproveitei um tempo tranquilo na Mata Velha, em Pirenópolis, para avançar no trabalho aos finais de semana. As melhores condições que já tive para retomar a minha escrita literária soterrada pelo delicioso ofício da edição. Fiquei ali por seis meses, dormindo na kombi da Tati e do Jimmy, cuidando de 54 mudas de árvores frutíferas, aprendendo muito sobre o banheiro seco e convivendo com os bichos, que me metem medo e que me fazem mais feliz, em seu habitat natural. 

"Você foi muito corajosa", disse o Jimmy, numa baladinha de carnaval que antecederia o início do isolamento social para o combate da covid-19.

Tenho mesmo essa mania de ser corajosa, às vezes porque é natural pra mim, mas também por falta de opção. Queria mesmo é ser valente, como Diadorim. Porque acho bonito.

Quando decidi me tornar uma escritora, ainda adolescente e devoradora de livros, qualquer projeção de futuro era também movida por uma Grande Beleza. Dez anos após a publicação do meu primeiro romance (Sem Palavras), percebo que o desejo aflorado de retomada da escrita agora se insinua pela condição contundente da leitura e do estudo. Embora a solitude me caia bem, pensei em reunir pessoas para isso.

Quem acompanha meu trabalho pela negalilu editora já sacou que meu gozo está no coletivo ─ este blog é testemunha. Ler junto e estudar junto me pareceu adequado para um momento em que batalhamos a reconstrução de estruturas fundamentais abaladas ao longo do governo Bolsonaro. Assim surgiu o Grupo de Estudos Arapyau, em março de 2023, com interesse nos mistérios e revelações contidas na literatura e na poesia.

A palavra “arapyau” ou "ara pyau" tem origem no Guarani, etnia de povos originários do Brasil, significa “ano novo” e mantém relações simbólicas com o tempo de colheita e a abundância. 

Fundamos assim um espaço/tempo para trocas e aberturas motivadas por questões sociopolíticas e culturais. Sediado nas livrarias O Jardim e Pomar, o grupo cumpriu na semana passada o programa inaugural. Inicialmente, 30 pessoas se candidataram às vagas gratuitas e 18 delas compareceram ao primeiro encontro. 

De lá pra cá debatemos os limites da ficção numa sociedade distópica, o direito à literatura à luz do pensamento de Antonio Cândido, aspectos ímpares da escrita publicada de Carolina Maria de Jesus, a complexidade da obra de Hilda Hilst, entre outros temas. Recebemos convidadas e convidados muito generosos. Com a participação do escritor Rico Lopes, também acenamos à poesia neobeat numa oficina com resultados surpreendentes. Chegamos ao final do semestre com um grupo firmeza de oito integrantes assíduos comedores de bolos.

Não perdemos todos os outros/outras/outres. Ainda há esperança da conciliação das agendas com as vontades de ser/estar. Para o programa do segundo semestre, a negalilu abre inscrições até 31 de julho. As atividades são quinzenais, gratuitas e presenciais, em Goiânia. O primeiro encontro está previsto para a o final de agosto. Inscreva-se AQUI.

O Grupo de Estudos Arapyau é uma ação comemorativa dos 10 anos de existência da negalilu editora.



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2 comentários

  1. Parabéns pela iniciativa. Seu trabalho nos motiva muito. Sou feliz sempre q participo.

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