De novo sapiens

domingo, abril 18, 2021

Foto: Túvia Carvalhosa/ Victoria & Albert Museum (Londres)


Dias governados pelo estômago e pelo intestino. Deitada como um cadáver ainda fresco. Os pés desabados, pernas frouxas, abdome relaxado, braços pousados ao longo do tronco, as mãos soltas espalmadas para cima em formato de cuia. Ombros distanciados das orelhas. Boca entreaberta e olhos da boneca de louça, parados e perdidos no vazio do teto do quarto. O caminho da lágrima é o fosso do ouvido, em Shavasana.

 

Naquela quarta-feira, antes que o domingo chegasse mais uma vez adensando o silêncio das ruas, flexionei os joelhos lentamente e enraizei os pés. Deixei que as pernas caíssem para o lado direito e fiquei ali, fetal, por alguns instantes apenas respirando. Inspirei e empurrei o chão com a mão esquerda bem aberta e o antebraço direito, enquanto me erguia percebendo cada centímetro do levante.

 

Até que a vertigem passasse, me organizei em Siddhasana com Pranayama de leve pra firmar a intenção. Posição de quatro apoios antes da permanência na postura do cachorro olhando pra baixo. Caminhei em solo lunar em direção das mãos e, dobrada à frente com os joelhos ainda flexionados, já era sapiens outra vez. Articulei o pescoço acima e abaixo, estirei as pernas e abri os braços na lateral me erguendo como bandeira hasteada. Sentada em Utkatasana observei o azul lá fora: firma mente.

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