Já na primeira e bem-sucedida reunião sobre a edição de Sem Palavras, enquanto me ouvia dizer tanta coisa, concluí que percorrer atenta o extenso conteúdo deste livro de ficção é me deparar com novas possibilidades de repercussão da obra, como a conhecemos. Mantive contato com aquela rara sensação de superação e infinitude que faz fervilhar o sangue na face: deliciosa ilusão que cataloguei nas sessões de psicoterapia. Algo tão estimulante quanto temeroso para a autora que decidiu compartilhar amplamente essa história como estratégia de fechamento de ciclo.
E criei um monstro. Cultivei um conto inquieto que, primeiro, se tornou romance literário e, depois, encontrou por si meios de aspersão. Como aquelas obras impetuosas, que exercem autonomia transitando do passado para o presente e seguem fazendo projeções de horizontes à revelia do criador.
Mas por hora, no plano mais imediato, ler Sem Palavras é instigante porque volto a me aproximar dos fatos, distanciada como estou, podendo avaliar com mais clareza o contexto sem antigas afetações. Posso enfim tomar decisões editoriais com segurança, ainda que mais solitária do que sempre quis.
A releitura agora também me alerta para o inusitado contido no encontro da Nega com Lilu e me convence, irreversivelmente, que, para além do tempo e do espaço cristalizados entre 6 de novembro de 2009 e 6 de novembro de 2010 ‒ período em que o romance transcorre ‒ o que resta é a Nega. Não resta envolvimento e deve se dissipar aos poucos a energia sexual que permeou inebriante aquele momento, agora gravado na memória dos hormônios.
No corpo da Nega, tal lembrança se manifesta (pelo menos), durante uma quinzena todo mês. No caso de Lilu, cerca de 72 horas. Nesse período, um dia e meio ela utiliza se convencendo, meio dia se organizando, meio dia seduzindo e, se nas últimas horas de excitação ocorre um empecilho logístico, ao invés de optar pelo motel com peruca divertida, prefere esperar o mês seguinte. Afinal, a Nega estará sempre ali.
Assim o tempo vai passando e as pessoas, envelhecendo... E o amor vai sendo declarado como algo a constar em atas com potencial para se tornar literatura.
Assim o tempo vai passando e as pessoas, envelhecendo... E o amor vai sendo declarado como algo a constar em atas com potencial para se tornar literatura.
Um, dois, quatro, seis. Ponto, espaço, delete, delete, delete. Enter. A Nega com ela mesma, ausente de si, sistemática, inteira na missão de chegar ao último conteúdo editável.
Enquanto recortava e colava, recortava e colava. Sem pensar. Só finalizar, respirar, apagar, apagar, apagar e se mover e, enquanto isso, aberta que estava, permitia que se esvaisse e que se invadisse. As lágrimas rolavam bem soltas enquanto se repetia naquilo, podendo tanto desidratá-la quanto encharcá-la.
Enquanto recortava e colava, recortava e colava. Sem pensar. Só finalizar, respirar, apagar, apagar, apagar e se mover e, enquanto isso, aberta que estava, permitia que se esvaisse e que se invadisse. As lágrimas rolavam bem soltas enquanto se repetia naquilo, podendo tanto desidratá-la quanto encharcá-la.
00:17 Brisa: enlouqueço na espera
o desejo é imenso
eu: qto tempo ainda temos?
00:18 Brisa: de qual tempo vc fala?
00:20 eu: rs
hoje
O blog Nega Lilu publica pela primeira vez conteúdo original do livro Sem Palavras (sim, mudei o título de novo). Enquanto edito e reviso pela terceira vez o texto, vou de encontro a muitíssimas revelações, exercício mais elaborado do que o acesso à emoção aflorada quando mantenho contato com processos em curso durante 2009 e 2010, período em que escrevi este romance de ficção com a colaboração de Brisa Marin, minha amada Lilu. E quando me observo daqui pra lá, constato: se Lilu não existisse, eu a inventaria. Pra poder viver tudo isso. E chegar ao fim.
As palavras de Mike Stipes, vocalista da banda R.E.M, que acaba de anunciar fim de carreira, têm grande harmonia e inteira coesão com as mensagens contidas nas músicas que, nos últimos 30 anos, tocaram tanta gente, em todo lugar. A mim elas novamente tocaram no coração, como o encanto de um déjà vu.
Antes mesmo de compreender as letras geniais, me detive na escuta daquele vocal poderoso e na melodia capaz de sugerir imagens da poesia contida em eventos como o nascimento do fruto, a luz que entra pela janela, o encontro furtivo dos olhares, as bolhas de sabão, o mergulho na piscina, o cruzamento de pensamentos, os pés no chão, a pipa no céu, o vento nos cabelos, insuflando felicidade ao mesmo tempo em que discutia a miséria do ser humano. Porque tudo sempre foi sobre a beleza revelada.
Me tornei grande fã quando descobri que Michael Stipes, Mike Milles e Peter Buck também sabiam sobre isso. Então não seria esta a primeira vez que ouvi deles sobre o afastamento necessário daquilo que construímos e amamos. A retirada é mesmo um dom. Que não cultivo com maestria. E por isso minha dificuldade no entendimento de que tudo tem fim (e pra dizer isso Stipes utiliza ‘must’, palavra que está fora do vocabulário daqueles que não sabem dizer ‘não’, em qualquer idioma).
Foi dito ainda que, apesar de ter sido uma decisão difícil, preferiram conduzir o fim da forma que acham correta e do jeito deles. Por isso este é um adeus sem lamentos. Não há luto. A dor existe, mas é consentida.
Agradeço então pelos momentos felizes e pelas tantas lágrimas que rolaram embaladas por Fall on me, The one I love, The lifting, I’ve been high, Disappear, Everybody hurts, Perfect circle, Drive, Try not to Breathe, Shiny happy people, Man on the moon, Find the river. Tantas.
Antes mesmo de compreender as letras geniais, me detive na escuta daquele vocal poderoso e na melodia capaz de sugerir imagens da poesia contida em eventos como o nascimento do fruto, a luz que entra pela janela, o encontro furtivo dos olhares, as bolhas de sabão, o mergulho na piscina, o cruzamento de pensamentos, os pés no chão, a pipa no céu, o vento nos cabelos, insuflando felicidade ao mesmo tempo em que discutia a miséria do ser humano. Porque tudo sempre foi sobre a beleza revelada.
Me tornei grande fã quando descobri que Michael Stipes, Mike Milles e Peter Buck também sabiam sobre isso. Então não seria esta a primeira vez que ouvi deles sobre o afastamento necessário daquilo que construímos e amamos. A retirada é mesmo um dom. Que não cultivo com maestria. E por isso minha dificuldade no entendimento de que tudo tem fim (e pra dizer isso Stipes utiliza ‘must’, palavra que está fora do vocabulário daqueles que não sabem dizer ‘não’, em qualquer idioma).
Foi dito ainda que, apesar de ter sido uma decisão difícil, preferiram conduzir o fim da forma que acham correta e do jeito deles. Por isso este é um adeus sem lamentos. Não há luto. A dor existe, mas é consentida.
Agradeço então pelos momentos felizes e pelas tantas lágrimas que rolaram embaladas por Fall on me, The one I love, The lifting, I’ve been high, Disappear, Everybody hurts, Perfect circle, Drive, Try not to Breathe, Shiny happy people, Man on the moon, Find the river. Tantas.
Tesão pré-menstrual
Algemas e espartilho
Champagne
Beco
Terreno baldio
Jantares
Viagem
O prazer do outro
Intenso
Selvagem
Reinvenção diária
Velas acesas
Plano estratégico
Depois das 22h
Antes da meia noite
Desidratação
Florentino Ariza
Fermina Daza
Muito Amor
Saúde demais
Lenha molhada
Fogão a gás
‘Me acode aqui’
O dia inteiro
Café da manhã
Em 2007, o Peru foi vítima de um terremoto com mais de 7 pontos na escala richter. A sinalização pintada nas ruas é uma indicaçäo de zona segura em caso de "sismos". |
Imagens do Centro de Miraflores, distrito de Lima. Esta última registra parte de exposiçäo "Ejército rosa, una feminización de lo marcial".
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Vista para o Oceano Pacífico, nos parques de Miraflores |
Na pequena Paracas, em frente a baía com o mesmo nome, o interventor Salvio Juliano registra presença na ação, com equipamento no modo automático. Que shot! |
Sítio arqueológico Huaca Pucllana, do Povo Lima, que viveu na região entre 200 e 700 d.C. e tinha o mar como deus supremo.
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La serie brasilera de intervenciones urbanas del artista plástico goiano Mateus Dutra deja rastros en Lima (Peru), publicando segmentos del cuento Sin Palabras escrito por Nega Lilu. La acción denominada ‘Mensaje en la botella’ integra el Proyecto Esfinje que, por medio de manifestaciones artísticas, comenta, transforma y difunde la obra literaria Nega Lilu, romance donde el cuento Sin Palabras está contenido.
Las intervenciones urbanas en territorio sudamericano fueron realizadas en noviembre, por el periodista e artista, Salvio Juliano, en Lima, proponiendo un diálogo con el paisaje de la ciudad. La misma acción, utilizando otros fragmentos de la obra literaria, ya fue hecha en Perpiñán (Francia), Linz (Austria), Frankfurt (Alemaña), Santiago (Chile) y en las siguientes capitales brasileras: Florianópolis (SC), Goiânia (GO), Natal (RN) e Recife (PE). La repercusión del trabajo esta siendo divulgado por el site www.negalilu.blogspot.com, que hospeda información sobre todas las acciones del Proyecto Esfinje.
“La obra busca metamorfosis permanente en la expectativa de mantenerse alineada con el pensamiento, el sentimiento, el cuerpo, la actitud de nuestro tiempo”, explica Nega Lilu, autora del proyecto, desenvuelto en colaboración con artistas como Mateus Dutra, en la búsqueda de la unión de lenguajes artísticos. Teniendo la literatura como conductora de otras manifestaciones creativas, el proyecto Esfinje se consuma provocando reflexiones sobre la esencia de la vida y la plenitud del amor.
El trabajo ya puede encontrarse en las calles de Lima y Santiago, después, sigue para Argentina, Estados Unidos, Bélgica, Inglaterra y otros Estados brasileros. Para que además de la fijación de textos cortos que puedan fundirse con el paisaje de la ciudad y ser observados por la populación, “el artista pone significado del contenido trabajado transfiriéndolo para él en un status imagético, modificando el núcleo semiológico, enriqueciendo su semántica y son los interventores que hacen posible eso”, comenta la autora. El resultado es un nuevo producto artístico.
Al escoger fragmentos del cuento Sin Palabras, Mateus Dutra busca dar no solamente representación grafica para el texto como más identidad y memoria emotiva para las palabras que narran la pequeña historia romántica de la Nega y Lilu. El artista cuenta que en esta primera fase (intervención urbana), el trabajo tiene la intención de explorar la poesía contenida en la metáfora de un mensaje guardada en una botella que es hechada (lazada) al mar:"A pesar que a la orilla de la inmensidad existe las ganas de que el mensaje encuentre al lector, pero no hay una persona definida".
Con una línea que marca, suelto, de un propio estilo, especializado en apropiarse de las formas, él se mueve entre el diseño y la ilustración, las artes graficas y las artes plásticas. Actualmente interesado en explorar el universo de la caligrafía, el artista cree que 'Mensaje en la botella' representa la división de aguas en la trayectoria que, en los últimos 10 años, se ha dedicado a la creación figurativa en el grafiti, en el diseño y en la pintura.
La producción artística de Mateus Dutra está siendo presentada en galerías de arte, pero principalmente en las calles de ciudades brasileras como São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre, y grandes capitales internacionales como Paris, Barcelona, Hanói, Windhoek, Santa Cruz de la Sierra, Bogotá, entre muchas otras. (Ver: flickr.com/photos/mateusdutra e http://youtu.be/SV6MBEZX-qI.
La producción artística de Mateus Dutra está siendo presentada en galerías de arte, pero principalmente en las calles de ciudades brasileras como São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre, y grandes capitales internacionales como Paris, Barcelona, Hanói, Windhoek, Santa Cruz de la Sierra, Bogotá, entre muchas otras. (Ver: flickr.com/photos/mateusdutra e http://youtu.be/SV6MBEZX-qI.
Para dar apoyo a la segunda etapa del proyecto, ‘Mensaje en la botella’ también tiene el registro fotográfico de las acciones de interferencia urbana con la cámara fotográfica analógica Holga 120, con el objetivo de tener resultado estético diferenciado relativo a la iluminación, tonalidad, textura, intensidad de colores. “Después de cumplir el circuito de publicaciones del texto en ambientes públicos, será el momento de transportar la obra para la galería de arte”, confiesa Mateus Dutra.
Mensagem na garrafa (Lima, Peru)
Mateus Dutra, 2011. Desenho impresso sobre papel adesivo. 21 X 29,7cm
Reforçando a possibilidade de inspiração esquizofrênica presente na história em que a Nega se encontra com Lilu, finalmente, surge só em seu quarto, Angelina Calle. O conto Sem Palavras não traz detalhes, mas naquele dia em que ela resolveu não trabalhar tinha disposição para permanecer deitada, com o pensamento fixo em Gabriela. Entregue a mistérios insolúveis, experimentava a sensação de inoperância se instalando gradativamente em seu corpo como fluidos infiltrados.
No máximo, girava o caleidoscópio, enxergando borradamente o universo cromático onde buscava distração e milagre no vaivém das pedrinhas que rolavam de precipício em precipício. Deliciosos relevos recorrentes.
Realizada pelo jornalista e artista plástico Salvio Juliano, a nona intervenção urbana do Projeto Esfinge, por meio da ação Mensagem na Garrafa, registra nas ruas de Lima, no Peru, o modus operandi da Nega. Até que não haja mais nada, mais ninguém. Só ela. O que já é demais.
A Nega se desorganizava quando Lilu estava distante e quando se aproximava e sumia pra sempre. Levaria então cerca de dois meses para rearranjar tudo onde estava ou em novos lugares, que havia descoberto na observação, primeiro passiva e depois ativa, do caos. Era próprio de Lilu mexer com a ordem das coisas. Das pessoas, dos móveis, das letras, das estrelas. Ao retornar encontrava tudo revolvido pela Nega e um bocado jogado fora, valorizado, empoderado, reconsiderado, descoberto. Confusa, voltava pra onde estava. E a Nega amorosa aguardaria até que as partículas do ar se assentassem para que houvesse novo reboliço, com a ajuda do saci. Enquanto isso, se distraia para não pensar como seria ter Lilu sempre por perto.
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Assim como sei que seu silêncio não constitui ausência, indiferença, descuido e similares, minha verborragia não quer demonstrar desrespeito, cobrança, ironia, incompreensão, hostilidade, crítica e parentes próximos.
Vejo você num polo e eu noutro, simples assim. E ao me aproximar, te afasto. E quando me revelo, vou te perdendo. Sei de tudo num misto de intuição e ficção, mas nada providencio. Sou Kamikaze. Você é o meu amor. O meu haikai.
Te quero.
Te perco.
Vejo você num polo e eu noutro, simples assim. E ao me aproximar, te afasto. E quando me revelo, vou te perdendo. Sei de tudo num misto de intuição e ficção, mas nada providencio. Sou Kamikaze. Você é o meu amor. O meu haikai.
Te quero.
Te perco.
O novo videoclip da Banda Uó é romântico. E com duas surpresas: a cor do esmalte dela (confirmando o romantismo do trabalho) e os vestígios da campanha anti-homofóbica de Nega Lilu. Repare no adesivo colado no Morro do Macaco Molhado, bem ali, ao lado do barman: http://negalilu.blogspot.com/2 011/06/onipresencanega-lilu-em -goias-velho.html
O blog Nega Lilu agradece pela audiência record no dia 6/9. Segundo a ferramenta estatística Google Analytics, que monitora o site, houve registro de 444 acessos, com 1.117 vizualizações de página. O Facebook foi o principal carreador de leitores e de novos leitores. (#intensatividade)
É tempo de curtir e compartilhar... segundo Mateus Dutra.
Publicaremos os gráficos nos próximos dias.
Onze e meia da noite. É duas da manhã. Quatro agora. Nove e quarenta. Meio dia já. Três em ponto. Cinco pra seis. Oito e dez. Oito e vinte. Nove horas. Meia noite e dezessete. Uma e meia. Nove e vinte e três. Dez e trinta e quatro, finalmente. Duas e quarenta e cinco. Cinco e quarenta e três. Sete e nove. Oito e dez de novo. Oito e quinze, oito e dezesseis, oito e dezessete, oito e dezoito, oito e dezenove, oito e vinte, oito e vinte e um, oito e vinte e dois, oito e vinte e três, oito e vinte e quatro, oito e vinte e cinco, oito e vinte e seis, oito e vinte e sete. Penso em ti.
Cacá queria voar. Ganhou asas, mas tinha medo. Os desejos eram muitos, mas o medo era maior. Queria que suas asas ruflassem de par em par, mas tinha medo de cair no mar. Pensava em chegar perto do sol e perverter o uso do vôo, mas temia que a queda fosse longa demais antes que encontrasse o chão.
Era Simone quem sabia de tudo e, às vezes, até gostava da idéia. Quase muda, quis ajudar propondo um passeio sem muitos riscos: convenceu a amiga de que vôo baixo é razante. E Simone fez Cacá voar dentro de casa mesmo.
Pensou em tudo. Perigo nenhum haveria, se aquele grande pássaro desajeitado não batesse asas ao ar livre e nem se soltasse de sua mão. Simone era amiga das boas. Quando Cacá voava no limite de altura, não hesitava em puxá-la para baixo, pois não permitiria a sensação da clausura. Gritava, brigava e a ave engaiolada, depois de um pouco aborrecida, passava a entender.
Voou, voou o dia inteiro agarrada à mão de Simone, que acendeu a lâmpada quando a luz se foi. Cacá se revezava entre segura e emburrada. Mas pensava que a amiga era linda, porque, sorrindo, criava calos nas mãos só para levá-la a uma odisséia alada: ora pela cozinha ora pela sala.
Sentindo-se cansada, Cacá finalmente pensou na hipótese de que a amiga poderia também ter se exaurido. Tardia, percebeu que, em momento algum sugeriu a parada para a sesta. Preocupou-se somente em ser feliz e Simone sabia, mas nunca disse nada. Cacá olhou exausta para ela, que não estava menos abatida. Soltou-se, desceu e pôs os pés no chão. Caminhou até Simone e a abraçou pedindo desculpas tão arrependidas que desejou jamais ter ganhado asas.
Ficaram ali, na sala, abraçadas. Não se falavam com palavras. Cacá queria saber se havia provocado um abraço que não teria mais fim. Tentou se soltar – suave e discretamente – por duas vezes, mas, sem sucesso. Viveu logo em seguida o medo de ser repudiada. Ficou quietinha, aninhada no colo de Simone que, nem tinha asas.
Pessoas chegaram na sala e não fizeram muita diferença, nem comentários de estranheza. Homens e mulheres iam e vinham na minúscula casa de amigas entrelaçadas. Elas não se soltavam e Cacá pensava no que Simone pensava – talvez, simplesmente, descansasse em seu corpo.
Depois de permanecerem imóveis por um tempo não sabido, Simone se enfadou da posição. Pousou a mão direita sobre o seio esquerdo da amiga que – num salto de pensamentos – começou a ficar tensa, sem resistir ao encanto do toque. Tão suave, tão harmonioso, tão perigoso quanto os voos rejeitados no início do dia.
Consumida pela indecisão de acariciá-la também, se perguntava infeliz: “O que ela pensa?”. Quando Simone calava, Cacá quase nunca sabia o que fazer. Costumava comparar a amiga às pombas alimentadas diariamente, num parque de manhãs ensolaradas. Cativas de estação, sempre cabe a elas mostrar até onde se aproximar sem causar revoada e abandono das migalhas.
Consumida pela indecisão de acariciá-la também, se perguntava infeliz: “O que ela pensa?”. Quando Simone calava, Cacá quase nunca sabia o que fazer. Costumava comparar a amiga às pombas alimentadas diariamente, num parque de manhãs ensolaradas. Cativas de estação, sempre cabe a elas mostrar até onde se aproximar sem causar revoada e abandono das migalhas.
A piração da Nega ao empreender fantástico escoamento era poder retornar ao estado que a impossibilitava de fugir enquanto corpo sólido. Uma solidez sempre pronta para o derretimento diante do belo era o corpo que abrigava a alma lacrimosa daquela mulher tão especial. Transitando por fronteira borrada, considerava-se mais um ser líquido, aproveitando o estímulo de Zygmunt Bauman, o sociólogo polonês que escreve poesia das mais lindas ao classificar a sociedade pós-moderna tão fluida quanto a água.
E a Nega era “das águas” disse Lilu um dia, porque, tão discreta, observava toda aquela correnteza ‒ algo próprio de Oxum. No zodíaco, a Nega não negava fogo e terra, sem provocar desarranjo no mapa astral somente para quem identifica a harmonia do caos.
A ideia era circular curtindo a dispersão de um elemento gasoso, atravessando a malha do cajueiro arraigado no concreto que dava frutos sem apreciação. O que importava naquele voo era o voo. Toda a sedução do desfoque apresentava-se paupérrima.
O fato de ter avançado imensamente reduzia o feito da fuga e enaltecia o próximo passo, que poderia ser o retorno. Aquela Nega era impetuosa, apaixonada, segura de si, experimental, encantadora.
Nada daquilo era exatamente planejado, mas o ímpeto de trilhar o caminho de volta era uma certeza primária e não se discute com a certeza primária. Para tanto, um elemento gasoso precisaria manter coesão e conseguiria manter integridade volátil quando estivesse concentrado apenas. Trampo!
Exercício dominado, o próximo passo seria a busca de ambiente propício para precipitação. Mistério ainda estaria por vir: a cristalização em busca de um sólido mais elaborado.
O cajueiro colossal abraçava mortalmente o cárcere da Nega, como um cipó de quiçaça enroscado que, com o passar dos anos, aparenta estar em processo de fossilização. Quem via de fora a trama parasitando o edifício afirmaria categoricamente que era um caso surreal de sufocamento. Do lado de dentro, a dúvida, o delírio.
Somente quando se sentia só, a Nega lamentava não ter escapado antes que aquela prisão se consumasse. Nos outros momentos considerava valentia a sua permanência. Inebriada pelo perfume que a alimentava no jejum de uma semana, mudava de ideia ao longo do dia, exercitando inconstância que trincava o chão que pisava, só não abalava seus sentimentos por Lilu. Românticas e tolas eram as razões da Nega na solitária consentida. Mas domingo era dia de fuga, na regência de setembro.
Ansiava por liberdade para amar de forma expansiva, detonando uma bomba relógio, metáfora adequada para a Nega naqueles dias de aproximação consciente dos limites, que ela apreciava chamar de bordas.
Intensa era sua atividade interna, catalisadora de expressiva circularidade ― própria da liquidez de sua natureza ― provocando calor e ebulição que, mantida por tempo prolongado, naquela noite deu escape à enclausurada em estado rarefeito.
― Sonhei com você essa noite. Que eu era cantora e estava dando um show em um barzinho. Você chegou acompanhada e eu parei de tocar. Aff. rs
― É bom saber que ainda estou com você. Ontem uma amiga disse que tinha sonhado com o marido e refletiu sobre o privilégio que é sonhar com a pessoa amada quando ela está dormindo ao lado da gente.
― Você está e estará sempre comigo. Por você ser você e pelo marco que representou em minha vida... Tem noção?
― Sem noção... plena.
― Você está e estará sempre comigo. Por você ser você e pelo marco que representou em minha vida... Tem noção?
― Sem noção... plena.
― Você às vezes é complexa mesmo...
― Sem plena noção.
― Duvido... Você tem noção sim. Eu não posso acreditar que você não tenha.
Pode não saber plenamente, claro. Mas tem noção. Tem sim.
Pode não saber plenamente, claro. Mas tem noção. Tem sim.
― Eu disse plena... rs noção. Sem.
― Aff. Desisto.
― kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
A Nega é difícil de amar porque está em movimento. #intensatividade
E imediatamente entrou em depressão.
#intensatividade (meu Bem, vou mandar registrar amanhã pra garantir nosso futuro e o futuro de nossos filhos).
intensatividade (#intensatividade)