O surto de energia criativa durou o tempo de escuta do álbum Automatic for the People (R.E.M) por duas vezes, com múltiplas execuções das três canções que fazem a Nega chorar. Especialmente em Try not to breathe, mãos fortemente espalmadas sobre as coxas, buscando chão.
As lágrimas que caíram com os olhos bem abertos foram colhidas no peito. A lucidez provocou o choro contínuo no encontro com o belo e depois de um tempo, a limitação dos músculos faciais impedidos de se expressar pelos rastros calcificantes de sal. No espelho nem se via: não havia nada ou já havia passado.
Então vasculhou Darth Vader antes de conhecer o Mau, desenhou em pensamento uma coleção inteira de camisetas para românticos, recordou-se da paisagem noturna transformada por delírios etílico-lacrimais e, a fim de dormir, recolheu a sensação de vulnerabilidade diante do movimento de desocupação para dentro da Caixa da Nega.
La serie brasilera de intervenciones urbanas del artista plástico goiano Mateus Dutra deja rastros en Lima (Peru) e Santiago (Chile), publicando segmentos del cuento Sin Palabras escrito por Nega Lilu. La acción denominada ‘Mensaje en la botella’ integra el Proyecto Esfinje que, por medio de manifestaciones artísticas, comenta, transforma y difunde la obra literaria Nega Lilu, romance donde el cuento Sin Palabras está contenido.
Las intervenciones urbanas en territorio sudamericano fueron realizadas en noviembre, por el periodista e artista, Salvio Juliano, en Lima, proponiendo un diálogo con el paisaje de la ciudad. La misma acción, utilizando otros fragmentos de la obra literaria, ya fue hecha en Perpiñán (Francia), Linz (Austria), Frankfurt (Alemania), Santiago (Chile) y en las siguientes capitales brasileras: Florianópolis (SC), Goiânia (GO), Natal (RN) e Recife (PE). La repercusión del trabajo esta siendo divulgado por el site www.negalilu.blogspot.com, que hospeda información sobre todas las acciones del Proyecto Esfinje.
“La obra busca metamorfosis permanente en la expectativa de mantenerse alineada con el pensamiento, el sentimiento, el cuerpo, la actitud de nuestro tiempo”, explica Nega Lilu, autora del proyecto, desenvuelto en colaboración con artistas como Mateus Dutra, en la búsqueda de la unión de lenguajes artísticos. Teniendo la literatura como conductora de otras manifestaciones creativas, el proyecto Esfinje se consuma provocando reflexiones sobre la esencia de la vida y la plenitud del amor.
El trabajo ya puede encontrarse en las calles de Lima y Santiago, después, sigue para Argentina, Estados Unidos, Bélgica, Inglaterra y otros Estados brasileros. Para que además de la fijación de textos cortos que puedan fundirse con el paisaje de la ciudad y ser observados por la populación, “el artista pone significado del contenido trabajado transfiriéndolo para él en un status imagético, modificando el núcleo semiológico, enriqueciendo su semántica y son los interventores que hacen posible eso”, comenta la autora. El resultado es un nuevo producto artístico.
Al escoger fragmentos del cuento Sin Palabras, Mateus Dutra busca dar no solamente representación grafica para el texto como más identidad y memoria emotiva para las palabras que narran la pequeña historia romántica de la Nega y Lilu. El artista cuenta que en esta primera fase (intervención urbana), el trabajo tiene la intención de explorar la poesía contenida en la metáfora de un mensaje guardada en una botella que es hechada (lazada) al mar:"A pesar que a la orilla de la inmensidad existe las ganas de que el mensaje encuentre al lector, pero no hay una persona definida".
Con una línea que marca, suelto, de un propio estilo, especializado en apropiarse de las formas, él se mueve entre el diseño y la ilustración, las artes graficas y las artes plásticas. Actualmente interesado en explorar el universo de la caligrafía, el artista cree que 'Mensaje en la botella' representa la división de aguas en la trayectoria que, en los últimos 10 años, se ha dedicado a la creación figurativa en el grafiti, en el diseño y en la pintura.
La producción artística de Mateus Dutra está siendo presentada en galerías de arte, pero principalmente en las calles de ciudades brasileras como São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre, y grandes capitales internacionales como Paris, Barcelona, Hanói, Windhoek, Santa Cruz de la Sierra, Bogotá, entre muchas otras. (Ver: flickr.com/photos/mateusdutra e http://youtu.be/SV6MBEZX-qI.
La producción artística de Mateus Dutra está siendo presentada en galerías de arte, pero principalmente en las calles de ciudades brasileras como São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre, y grandes capitales internacionales como Paris, Barcelona, Hanói, Windhoek, Santa Cruz de la Sierra, Bogotá, entre muchas otras. (Ver: flickr.com/photos/mateusdutra e http://youtu.be/SV6MBEZX-qI.
Mensagem na garrafa (Santiago, Chile)
Mateus Dutra, 2011. Desenho impresso sobre papel adesivo. 21 X 29,7cm
Faltava alguma legitimidade para que a Nega entrasse na disputa pelo amor de Lilu, quando se aproximava o final das férias conjugais da flor de cajueiro. Todas as suas armas haviam sido posicionadas no jogo de sedução e, naquele momento, nem o carinho, nem a compreensão dedicada ‒ muito menos o sexo ‒ impediriam sua amada de trilhar o recorrente caminho de volta.
Sempre houve o risco, as previsões do óbvio não eram escassas, e ainda assim existia a esperança da Nega, indissociada da paixão. Porque muito mais o desespero da ausência do que a dor da perda a conduziria à dissimulação do controle da situação.
No entanto, a fragilidade da farsa provocava movimentação instável de idas e vindas, quase uma dança cega de improviso orientada pelo coração. A primeira manifestação de insensatez dessa natureza teve potencial para fazer ruir sentimentos ainda não estruturados, quando cheia de rodeios e timidez, sentada na grama do parque, ela se ouve dizer algo impetuoso: “Quero ser sua mulher”. Lilu respirou aliviada porque, por alguns minutos, pensou que fosse presenciar, com despreparo, um anúncio precoce de despedida.
Mas à medida que crescia desavisado o amor no peito da Nega, para não botar tudo a perder antes do tempo, em seguida retrocedeu, declarando enquanto Lilu dirigia: “Não quero mais ser sua mulher; porque não posso”. Em silêncio, um suspiro trazia novo alívio à flor de cajueiro, que vislumbrava veredas cada dia mais abertas para seu eterno retorno, enquanto acompanhava atenta à construção do fim sem intervenção, apenas deixando rolar.
Uma das últimas simulações do controle fake da Nega sob sua breve história romântica com Lilu é o conteúdo da oitava mensagem na garrafa, desenhada pelo artista plástico Mateus Dutra, e distribuída em Santiago, no Chile, com a colaboração da bailarina mexicana Martha Cano.
Divertido insight. Não foi só profissionalismo que segurou a onda de Aline, a depiladora da Nega, em Preliminares. Conhecendo um pouco do trabalho do artista Adão Iturrusgarai, por meio da Plus Galeria, ficou tudo (tu-do) explicado... rsrsrs.
Bonito quando os caminhos da ficção se cruzam bem ali na esquina.
Aline, Adão Iturrusgarai, 2010. Nanquim s/ papel. 29 X 21 cm. |
Começa o ocaso da florada de cajueiros no cerrado. Somente manifestações tardias concentram agora o intenso perfume atrativo das abelhinhas negras trabalhadeiras. Os buquês pioneiros da estação cumprem sedentos o ciclo. É tanta energia concentrada durante a seca que, antes da formação da polpa, precipita-se a explosão de uma poderosa seiva cristalizante envolvida por uma carapaça poética que pereniza o fruto, se pensarmos bem. E logo será tempo do caju e da saudade.
Lucien Freud não pintava apenas, ele revelava humanidades. Ainda me lembro da sensação que ficou aqui dentro quando seu trabalho me tocou e me conduziu à descoberta de que a pele que recobre o corpo humano dá ao ser translucidez.
Reflection (self portrait), Lucien Freud, 1985. Óleo sobre tela. 56,2 x 51,2 cm |
“É o bicho papão”, anunciou Nina com sua voz poderosa, ao bater na porta do quarto de hotel. Temerosa de crime passional* me certifiquei: pedi senha e, em seguida, liberei a entrada da menina na calça branca. Atrasada 14 minutos eu a esperava como eu gosto, de cabelos molhados e besuntada. Não uni as camas desta vez porque não quis evocar o pensamento equivocado de que o sexo era o mais importante em nosso encontro. Ainda assim, havia idealizado sua chegada com recepção carinhosa, algo inevitavelmente erótico.
Como minhas expectativas haviam sido tão diluídas na solução fisiológica presente nos últimos dias, tudo seria apropriado desde que fosse lento, bem lento, cultivando a inundação e a paciência. Perguntei a ela se teríamos tranquilidade pras nossas coisas. Ela disse que sim como quem confirma o óbvio. Porque Nina sempre teve tempo pra mim e isso me emociona demais.
O reconhecimento do cheiro no abraço sem fim precede o beijo. O beijo sem fim. Pergunto se ela está bem e ela me diz sem palavras. Larirurá... a luz dos olhos seus nos olhos meus. Temos apenas quatro horas e cuido para que as providências ambientem nosso encontro: a chama, 10 gotas da essência de inspiração e paz, Riacho Doce, Vinicius de Morais, água. E teremos muito mais em seguida.
*Para devidos fins, sou doadora de órgãos. Inclusive coração.
Na semana que passou a Nega conviveu com a umidade. Quatro dias completos em estado lastimável de excitação sexual que a obrigou a ter na bolsa uma calcinha extra para usar por volta das 16 horas, antes que o trânsito fechasse cercos e libertasse a imaginação, naquele período imprevisto e pouco recorrente que corresponderia ao cio.
A ginecologista e obstetra da Nega chegou a se deter na descrição fisiológica da coisa, durante interessante consulta médica cercada de vários outros assuntos, inclusive no campo espiritual. Observando os exames semestrais só pode diagnosticar o apetite da paciente. Estava tudo bem, a calcinha molhada era tesão. Noventa e seis horas de tesão estimulado pela compreensão da vida como ela é.
E com o atraso de duas semanas a Nega foi depilar-se. Somente o profissionalismo de Aline poderia poupá-la do constrangimento. Deitou-se no divã e ordenou pubiana completa: tudo. Frente e verso. E encharcou por toda parte enquanto dedicava-se às próteses celulares previstas por Marshall McLuhan para afastar a dor e projetar o clímax.
A ginecologista e obstetra da Nega chegou a se deter na descrição fisiológica da coisa, durante interessante consulta médica cercada de vários outros assuntos, inclusive no campo espiritual. Observando os exames semestrais só pode diagnosticar o apetite da paciente. Estava tudo bem, a calcinha molhada era tesão. Noventa e seis horas de tesão estimulado pela compreensão da vida como ela é.
E com o atraso de duas semanas a Nega foi depilar-se. Somente o profissionalismo de Aline poderia poupá-la do constrangimento. Deitou-se no divã e ordenou pubiana completa: tudo. Frente e verso. E encharcou por toda parte enquanto dedicava-se às próteses celulares previstas por Marshall McLuhan para afastar a dor e projetar o clímax.
A luz mais linda do dia construiu atmosfera nostálgica para aquele momento de adeus que começou com um longo abraço, seguido de dois outros até o final do ato discretamente observado pelos taxistas. Entre o primeiro e o último, objetiva recordação da agenda convergente, presentinho extemporâneo para manter a chama acessa por mais 16 noites, olhos nos olhos e a percepção de que muitos carinhos dedicados à Nina ficaram pra trás.
Muitas palavras rotas também poderiam ter sido compartilhadas, além das que eu disse a ela, naquele encontro ruidoso de nossos corpos. Mas isso não importa, ou importa cada dia menos. Gosto sim de ouvir a voz de Nina, que tem diálogo permanente com o silêncio. Me inspira, me ensina tanta coisa linda. E ela pode acabar acreditando de tanto me ouvir.
Pessoas como eu, que são repetitivas por vocação, crença ou por esporte, não têm dificuldade de assumir isso. Gente tipo eu pensa enquanto fala e repensa quando submete os outros às mesmas histórias novamente, e novamente.
Pra dizer que te adoro, Nina... quantas vezes forem necessárias. Espero notícias suas.
Pessoas como eu, que são repetitivas por vocação, crença ou por esporte, não têm dificuldade de assumir isso. Gente tipo eu pensa enquanto fala e repensa quando submete os outros às mesmas histórias novamente, e novamente.
Pra dizer que te adoro, Nina... quantas vezes forem necessárias. Espero notícias suas.
Estou fazendo as pazes com o homem
que desgraçou nosso clã
Dizem que todas sobreviveram,
mas foi apenas ontem
que ele abandonou a todas,
com seus vestidinhos comportados
sem noção do amanhã
Já não me interessa quantos foram os bastardos
Eu fui cópia mal feita, misturada
Tive o pior das mulheres rançosas,
mas agora, bem agora,
descobri que meu melhor
vem da fruta podre,
da ovelha negra
que prefere hoje, urgentemente hoje.
(por Patrícia Gil, minha amada Pagu, ousada e valente, que quero sempre pertinho de mim)
que desgraçou nosso clã
Dizem que todas sobreviveram,
mas foi apenas ontem
que ele abandonou a todas,
com seus vestidinhos comportados
sem noção do amanhã
Já não me interessa quantos foram os bastardos
Eu fui cópia mal feita, misturada
Tive o pior das mulheres rançosas,
mas agora, bem agora,
descobri que meu melhor
vem da fruta podre,
da ovelha negra
que prefere hoje, urgentemente hoje.
(por Patrícia Gil, minha amada Pagu, ousada e valente, que quero sempre pertinho de mim)
Diário de bordo
por Guilherme Wohlgemuth
Chegamos em Recife com o céu todo escuro e tivemos chuva todos os dias. Montamos a instalação "Descoberto e Incolor" na Casa Mecane, como parte do projeto de circulação do duo Perfume para Argamassa, de Kleber Damaso e Viviane Domingues. Por isso resolvi iniciar a intervenção por lá mesmo, colando um dos stickers no pilar de entrada. A Casa Mecane é um centro cultural novo, em Recife, e abriga vários tipos de expressões artísticas. No mesmo dia, à noite, nos apresentamos no Parque Dona Lindu, um complexo arquitetônico e cultural também recentemente inaugurado.
Seguimos trabalhando até o último nosso último dia na cidade, quando me atentei que ainda não havia finalizado a circulação da mensagem enviada por Nega e Lilu. Então, Maria Paula Costa Rêgo, coreógrafa e diretora do Grupo Grial, nos acudiu com uma carona que resolveu tudo.
E foi lá na chamada Recife Antiga, já revitalizada, que iniciamos um circuito intenso de intervenções. Pregamos um dos adesivos na Praça do Rio Branco, onde fica o Marco Zero, nascedouro da capital pernambucana.
Outra mensagem foi entregue na casa que abriga o movimento Mangue Beat, logo ali ao lado da famosa estátua do memorável Chico Science.
Em seguida, fomos rumo à Ponte Velha da cidade e concluímos com a intervenção na Igreja de São Pedro, linda e imponente edificação.
Fotos: Kleber Damaso |
Foi incrível a associação da imagem do texto com a realidade cultural de Recife, uma cidade que canta por si só, repleta de belas paisagens. Por coincidência, no Marco Zero, dias atrás assistimos um grupo conduzido por um dos filhos de Mestre Salustiano. Muito interessante...
Mensagem na garrafa (Recife, Pernambuco, Brasil)
Mateus Dutra, 2011. Desenho impresso sobre papel adesivo. 21 X 29,7cm
As histórias da infância e juventude de Lilu divertiam e emocionavam a Nega que parava o que estava fazendo e pensando em fazer para ouvir o que flor de cajueiro tinha para contar com os olhos faiscantes. Naquela manhã nascida de pouco, recostou-se nua na cabeceira da cama e viajou pedalando sua bicicleta do guidon alto e longo, cabelos amarrados num rabo de galo, calça jeans dobrada até o meio da canela, ouvindo em alto volume a música que mais gostava.
Arrancou do peito um samba triste, íntimo, que iluminou profundamente ‒ e ilumina até hoje ‒ a alma da Nega, apreciadora da melancolia. O tempo parou. Rolava paixão incandescente e ficou pra sempre registrada a inflexão da voz buscando fôlego e desenhando caminhos num pescoço perfeito.
Era carnaval na canção, tristeza na avenida e a Nega explodindo de felicidade: Lilu cantava só pra ela!
A partir dessa lembrança sem detalhes contidos no conto Sem Palavras, o texto original levado pelos mensageiros do Projeto Esfinge a Recife (PE), revela algo da polaridade que conectou e desconectou Lilu à Nega, traçando paralelo entre a dedicação particular e a expressão pública romântica demais.
Conheça amanhã e somente aqui mais um trecho do conto Sem Palavras que integra o circuito de intervenções urbanas, ação Mensagem na Garrafa, do Projeto Esfinge.
A palavra
Romance
Dormir juntinho
Acordar juntinho
Deixar rolar
Açaí e chá
Fotografia
Viajar sem planos
Beijar na boca (muito)
Sexo e água
Coldplay
Trabalho
Procrastinação criativa
Gestalt
Amigos na chácara
Novas tecnologias no trânsito
Filtro solar
Nando Reis
Dry martini
Pinacoteca
Presentes extemporâneos
Os olhos teus
A poesia das coisas
Clarice Lispector
O silêncio
Tomates perfeitos
A lua
Astronauta
Vídeos da Elis
O circo
Superação
Compreensão
Correspondência
42 graus
Estado lastimável
Carinho até o fim
Romance
Dormir juntinho
Acordar juntinho
Deixar rolar
Açaí e chá
Fotografia
Viajar sem planos
Beijar na boca (muito)
Sexo e água
Coldplay
Trabalho
Procrastinação criativa
Gestalt
Amigos na chácara
Novas tecnologias no trânsito
Filtro solar
Nando Reis
Dry martini
Pinacoteca
Presentes extemporâneos
Os olhos teus
A poesia das coisas
Clarice Lispector
O silêncio
Tomates perfeitos
A lua
Astronauta
Vídeos da Elis
O circo
Superação
Compreensão
Correspondência
42 graus
Estado lastimável
Carinho até o fim
Na lógica daquela garota que um dia se responsabilizou por todas as janelas quebradas da vizinhança, afastar-se da Nega era uma forma de retornar, depois de uma certa missão cumprida. Antes, ela precisava estar consigo apenas, num processo previsto para ser iniciado em breve. Nina também tinha um segredo, um projeto pessoal que guiaria, definitivamente, a menina ao encontro da mulher, guardadas num corpo só.
A verdade, sem rodeios, era que Nina quase havia jogado tudo pro alto para viver sua história com aquela que a tirou de seu lugar, apresentando a ela um jeito peculiar de olhar o mundo e de se ver. Mas interrompeu a fluidez da fuga, e trancou-se voluntariamente na masmorra, quando percebeu que se movimentava não pela Nega, mas por causa dela.
― Não demora. Volta logo, Nina. Esse é o nosso tempo! Choramingava a Nega velha, sabendo que nada é para sempre e que a eternidade é agora.
A espera precisa ser uma escolha e não uma maldição. As fantasias bordadas ao longo das horas, dias, meses, anos em que nada acontece tanto ensejam o instante mais feliz para o ser mortal que vive para amar, quanto registram o tempo dedicado ao culto do improvável para o cético que se mantém apaixonado por tempo indeterminado.
São tantos os infelizes inúteis que definham na ausência de comunicação. Os sem carta, os sem email, os sem sms, pessoas que ficam em alerta, mas nunca recebem ao menos um telefonema. E essa gente perdedora não se sente derrotada. Por isso o sentimento do repertório emotivo que reconhecemos como Esperança merece nossa atenção e estudo. Mas pelo amor de Deus, tenham alguma dignidade!
Sendo assim, quando a partida de Nina deixou expectativas de retorno um dia, a Nega que já aguarda por Lilu há séculos prometeu para si mesma que não aprovaria a formação de fila ali dentro. E mais: que no caso do coração enganar o cérebro não poderia garantir atendimento individualizado.
O julgamento precipitado, e equivocado, sobre uma citação de Dalai Lama me fez parar tudo de repente, no meio do dia, para decodificar avanços no Projeto Esfinge a partir das primeiras manifestações hostis contra Nega Lilu. Acho que fui induzida ao engano porque flodação não combina com quem prega a aquiescência.
Nas palavras do grande Lama publicadas ao léu na rede, "Aprimorar a paciência requer alguém que nos faça mal e nos permita praticar a tolerância”. Primeiro, meu ímpeto foi perguntar: mas por que esperar a consumação da violência para isso? Em seguida, me pareceu que a reflexão do mestre deva falar para os iniciantes mais do que para Nega Lilu, que é do bem e acredita piamente no impacto positivo da Paz na vida das pessoas.
Um email homofóbico e meia dúzia de comentários desagradáveis no Facebook, estimulados por mal entendido, não chegam a ser rejeição, no universo. As manifestações de carinho e de respeito por este trabalho artístico, que transita pelo campo dos direitos sociais, existem em número muito maior e crescem exponencialmente, todos os dias, nos apontando caminhos. Quem não sabe que a Nega é uma fofa?
Assim, diante de minhas limitações e da teimosia pacifista, fiquei com vontade de juntar à lição do Lama uma verdade que guia nossos passos ‒ o amor sempre vence.
Me encanta a versatilidade dessas criaturas ficcionais que, na literatura, se fundem num único ser e, na dança, se expandem. Para a coreógrafa Valeska Gonçalves, Nega Lilu é um trio.
As primeiras ideias coreográficas trazidas para o trabalho valorizam as sutilezas de uma movimentação concentrada em detalhes, rica em signos, que não busca fidelidade à narrativa do conto Sem Palavras. Mais que isso, interessa ao trio manter contato com a universalidade encontrada nesta obra literária que se desafia num breve comentário contemporâneo sobre a plenitude do amor e a essência da vida.
É Lilu quem diz: corre o risco de ser emocionante. (sem aspas ou com aspas?)
Eis que surge a Nega sentada à beira de um lago, sozinha. Observada à distância, ela interrompe a placidez da água antes de se levantar e partir, provocando sobressalto notado pelo marido, que vigiava o sono de Nina. Olhos abertos. Silêncio na cama. Era pouco mais de 5 horas. Ele ensaia um carinho, ela consente. Abraçados eles vêm o dia ameaçar chegada. Rola sexo matinal como sempre, mas rola diferente. É ménage à trois.
Diário de bordo
por Guilherme Wohlgemuth
Nega e Lilu chegaram à Praia da Pipa, no litoral sul de Natal, um lugar paradisíaco cheio de falésias e golfinhos. Os stickers foram colados entre a Praia do Meio e a Praia do Amor, em um viaduto único por onde passam todos os banhistas.
Um antigo ponto de embarque para a Redinha, hoje porto de pesca, abriga um mercado de peixe e uma "Casa das Primas" (conhecida por nós como cabaré ou casa da luz vermelha). Um barco asiático de pesca tinha aportado naquela hora e era uma farra só com as primas de lá... O lugar é um verdadeiro cenário de pirataria, super interessante.
O Amendoim, que trabalha no porto, nos abriu passagem para pregar a mensagem em um dos barcos da cooperativa. Assim a mensagem de Nega e Lilu passará sempre alguns dias no mar e outros no porto... Vários pescadores assistiram o processo, curiosos para saber quem havia escrito as fábulas. Eu diria que foi uma sereia do mar.... risos....
O Amendoim, que trabalha no porto, nos abriu passagem para pregar a mensagem em um dos barcos da cooperativa. Assim a mensagem de Nega e Lilu passará sempre alguns dias no mar e outros no porto... Vários pescadores assistiram o processo, curiosos para saber quem havia escrito as fábulas. Eu diria que foi uma sereia do mar.... risos....
Na Ribeira ocorre a maior parte das intervenções urbanas de Natal. Atualmente, o setor passa por uma revitalização cultural e abriga bares de todas as tribos, ateliês de arte, estúdios, um movimento do choro e becos cheios de grafite e stickers.
Uma tentativa anterior do Governo foi frustrada, mas o pessoal das artes resolveu ocupar a área em meio às ruínas de casarões abandonados, dividindo espaço com putas, pescadores, comércios ordinários, mendigos, viciados etc....
Para circular a mensagem na garrafa, fomos também à Rua Chile, um mar de grafite. Klaus, da Cultura Alemã, foi nosso guia cultural, orientando os espaços adequados para realizar as ocupações. "Entre ela e ele... fiquei com ele...", comentou, se referindo aos painéis do grafite que agora dialogam com o texto de Nega e Lilu... risos...
Uma tentativa anterior do Governo foi frustrada, mas o pessoal das artes resolveu ocupar a área em meio às ruínas de casarões abandonados, dividindo espaço com putas, pescadores, comércios ordinários, mendigos, viciados etc....
Para circular a mensagem na garrafa, fomos também à Rua Chile, um mar de grafite. Klaus, da Cultura Alemã, foi nosso guia cultural, orientando os espaços adequados para realizar as ocupações. "Entre ela e ele... fiquei com ele...", comentou, se referindo aos painéis do grafite que agora dialogam com o texto de Nega e Lilu... risos...
Mensagem na garrafa circulada por Guilherme Wohlgemuth , em Natal. Fotos: Kleber Damaso |
A série brasileira de intervenções urbanas do artista plástico goiano Mateus Dutra deixa rastros em Natal (RN), publicando no Bairro da Ribeira e na Praia da Pipa, trechos do conto Sem palavras escrito por Nega Lilu. A ação denominada ‘Mensagem na garrafa’ integra o Projeto Esfinge que, por meio de manifestações artísticas, comenta, transforma e difunde a obra literária Nega Lilu, romance onde o conto Sem palavras está contido.
As intervenções urbanas em território potiguar foram realizadas entre os dias 4 e 8 de julho, pelo artista plástico Guilherme Wohlgemuth e o coreógrafo e bailarino Kleber Damaso, propondo um diálogo com a paisagem da cidade. A mesma ação, utilizando outros fragmentos da obra literária, já foi executada em Perpignan (França), Linz (Austria), Frankfurt (Alemanha), Florianópolis (SC) e Goiânia (GO). A repercussão do trabalho vem sendo divulgado pelo site www.negalilu.blogspot.com, que hospeda informação sobre todas as ações do Projeto Esfinge.
“A obra busca metamorfose permanente na expectativa de manter-se alinhada com o pensamento, o sentimento, o corpo, a atitude de nosso tempo”, explica Nega Lilu, autora do projeto, desenvolvido em colaboração com artistas como Mateus Dutra, em busca da convergência de linguagens artísticas. Tendo a literatura como indutora de outras manifestações criativas, o projeto Esfinge se consuma provocando reflexões sobre a essência da vida e a plenitude do amor.
O trabalho já pode ser encontrado nas ruas de Natal e, em seguida, segue para Pernambuco, Ceará, Distrito Federal e Pará, antes de iniciar etapa Latino Americana no Chile, Peru e Venezuela. Para além da afixação de textos curtos que possam se fundir com a paisagem da cidade e ser observados pela população, “o artista ressignifica o conteúdo trabalhado transferindo para ele status imagético, modificando sua matriz semiológica, enriquecendo sua semântica e são os interventores quem viabilizam isso”, comenta a autora. O resultado é um novíssimo produto artístico.
Ao escolher fragmentos do conto Sem Palavras, Mateus Dutra busca dar não somente representação gráfica para o texto, mas identidade e memória emotiva para as palavras que narram a breve história romântica de Nega e Lilu. O artista conta que, nesta primeira fase (Intervenção Urbana), o trabalho tem a intenção de explorar a poética contida na metáfora da mensagem guardada numa garrafa que é lançada ao mar: “Ainda que à deriva na imensidão, existe a pretensão de que a mensagem encontre leitor, mas não há destinatário definido”, frisa.
Com traço marcante, solto, de estilo próprio, especializado na apropriação de formas, ele transita entre o desenho, a ilustração, as artes gráficas e as artes plásticas. Atualmente interessado em explorar o universo da caligrafia, o artista acredita que 'Mensagem na garrafa' represente um divisor de águas na trajetória que, nos últimos 10 anos, tem se dedicado à criação figurativa no grafite, no desenho e na pintura.
A produção artística de Mateus Dutra vem sendo apresentada em galerias de arte, mas principalmente nas ruas de cidades brasileiras como São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre, e grandes capitais internacionais como Paris, Barcelona, Hanoi, Windhoek, Santa Cruz de la Sierra, Bogotá, entre muitas outras. Veja: flickr.com/photos/mateusdutra e http://www.youtube.com/watch?gl=BR&v=SV6MBEZX-qI .
Para dar subsídios à segunda etapa do projeto, ‘Mensagem na garrafa’ também prevê o registro fotográfico das ações de intervenção urbana com a câmera fotográfica analógica Holga 120, com o objetivo de se atingir resultado estético diferenciado relativo à luminosidade, tonalidade, textura, intensidade de cores. “Após o cumprimento do circuito de publicações do texto em ambiente público, será o momento de transportar a obra para a galeria de arte”, revela Mateus Dutra.
Mensagem na garrafa (Natal, Rio Grande do Norte, Brasil)
Mateus Dutra, 2011. Desenho impresso sobre papel adesivo. 21 X 29,7cm
O breve romance de Nega e Lilu foi mesmo curto. E há quem diga que durou até demais. A intimidade conquistada entre encontros que duraram de 15 minutos a 6 horas ‒ tempo ideal constatado durante processo de desidratação ‒ foi sendo acumulada num único parágrafo capaz de divertir, quando o conto Sem Palavras estiver à disposição neste blog e na versão impressa, a partir de novembro deste ano.*
Este imenso parágrafo traz um panorama de dias felizes, cúmplices, atrevidos, que não chegaram a atingir seu potencial máximo, porque faltou às amantes as delícias da convivência com proximidade, que pode ser o apogeu e o ocaso de qualquer relacionamento que se assume.
Enquanto uma queria acordar na presença da outra, a outra queria preservar o belo, no entanto, num dia de delírio, pensou em envelhecer e ter a Nega ao seu lado. É bom registrar o episódio para que aqueles dias sejam memoráveis e para que os incrédulos torcedores de uma só tenham oportunidade de reposicionamento sobre a relação, enquanto leitores.
Enquanto uma queria acordar na presença da outra, a outra queria preservar o belo, no entanto, num dia de delírio, pensou em envelhecer e ter a Nega ao seu lado. É bom registrar o episódio para que aqueles dias sejam memoráveis e para que os incrédulos torcedores de uma só tenham oportunidade de reposicionamento sobre a relação, enquanto leitores.
Em Natal (RN), durante intervenção urbana, o texto publicado no Bairro da Ribeira e na Praia da Pipa é parte do grande parágrafo e revela um pouco desta intimidade, compartilhada agora com o leitor a partir da colaboração de dois interventores profissionais, o artista plástico e advogado Guilherme Wohlgemuth e o coreógrafo e bailarino Kleber Damaso, que circulam o trabalho concebido por Mateus Dutra, autor em primeiro grau da ação Mensagem na Garrafa que, por meio do Projeto Esfinge, comenta, transforma e difunde o conto Sem Palavras.
*O conto Sem Palavras está contido no romante literário de ficção Nega Lilu, que será publicado neste blog, diariamente, a partir de 6 de novembro de 2011.
O dia havia se iniciado com a Nega caindo da cama e levantando com uma ideia na cabeça. Tinha planos para manter o seu segredo em absoluto segredo. Não o revelaria a ninguém. Ou contaria tudo pra alguém não íntimo de um jeito que não soasse a mistério lapidar. Assim, seu tesouro permaneceria seguro com o taxista e a Nega não correria riscos de derrama, porque transbordar sem companhia era como emular uma ilha agora. E como tudo vai tão bem a gente não quer que isso ocorra.
A xícara vermelha longilínea, branca no interior, era pura enganação. Agradeci sem emoções a atendente que ao abrir a porta pra mim, oferece água num copo descartável e aquele café nada a ver, me mostrando a sala de espera pensava ter feito todo o trabalho. OK, OK, eu tava com sono, e se não fosse a internet móvel, minha futura cliente encontraria meu raro mau humor ao entrar hora e meia atrasada no escritório sem se lembrar do meu nome. Deselegante professora.
A Nega tem um segredo.
Não existem palavras diante do belo.