Dia e noite

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Meu amigo conhece criaturas estranhas, maiores de 40, que também curtem Beatles, com nomes esdrúxulos e projetos muito secretos desenvolvidos em quarto de apartamento. Um deles nunca conheceu o carinho e o desejo de alguém pelo seu corpo, seu beijo, seu cheiro. Amou sem ser amado, apenas. 

Eu soube que, desde a adolescência, o seu maior conflito é domar a ansiedade que, durante o dia, o condena à desilusão e, à noite, o faz aguardar  pela ausência permanente dos pais a fim de partir em busca de um grande amor. Alguém que o compreenda enfim, um homem.

Quando eu era jovem e escritora ficcionista que me levava a sério demais, olhando pro vazio ou mirando o fundo escuro do meu armário aromatizado de maconha, concebia meus personagens neuróticos parecidos com os amigos do amigo. Me dedicava ao detalhamento do perfil daqueles mais marcantes, correndo o risco de estar brincando de Deus na criação de seres alienígenas.

Com o tempo, descobri que essas pessoas circulam por aí, cometendo gafes, se maltratando, causando incômodo, buscando prazer e paz, vivendo a vida deles e se achando interessante. Como a gente.

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