O efêmero tem dessas coisas
quinta-feira, maio 17, 2012
Procura-se o autor ou a autora da
pintura da menina ruiva, com olhos lacrimosos. A imagem emprestou personalidade
e aura para que Nega Lilu sustentasse sua condição anônima entre 3 de janeiro e
5 de novembro de 2011, véspera do início da publicação de Sem Palavras em formato eletrônico.
De volta à Bogotá para uma busca
mais acertiva, inicialmente fui de encontro a ela, guiada por ruídos da
memória, que me traia sempre que reconhecia a paisagem. Porque encontrar
exatamente aquele prédio de tijolinho à vista na Candelaria é quase tão
improvável quanto a busca bem sucedida do graffiti pintado em janelas térreas
há dois anos.
Conduzida pela incerteza, percorri
o bairro do largo mais plano até as escadarias de acesso primeiro ao Cerro de
Montesserrat. A luz do dia ameaçava se pôr, inviabilizando as fotos, e eu
marchava rumo ao morro, buscando ar acima demais do oceano, sentindo a face
enrubescer e fervilhar as maçãs. E depois morro abaixo, viva, porque não
desistia da teimosia.
Uma jovem descia à frente, com o
fogão improvisado na cabeça, equilibrando-se com as espigas de milho na sacola.
Logo atrás, três homens faziam a troça apontando para a trabalhadora e olhavam
para os lados em busca de conivência. Dei a eles o meu desprezo. Ao encontrar a
família, a vendedora sorria largamente, exibindo dentes muito brancos, como parecia
fazer todos os dias: não havia, exatamente, satisfação.
De volta ao platô da Candelaria,
onde a sombra da montanha levaria mais alguns minutos para anunciar a noite,
encontrei nos fundos de um mercado outra pintura do autor que eu procurava.
Reconheci pelos olhinhos. Desta vez, fotografei os trabalhos do entorno, na
perspectiva de identificá-lo o artista a partir de outros artistas, porque se sabe
que muitos grafiteiros trabalham em grupo. Junto da menina fofa que conduz o
cachorrinho, encontrei duas assinaturas que aparentam conexão com o trabalho.
No momento, estou tentando manter
contato com a comunidade que pinta na Candelaria, porque o Coletivo Esfinge
busca, desde janeiro de 2011, informações para que o artista seja devidamente
creditado pela obra artística que empresta uma certa tristeza à Nega Lilu.
Procura-se o autor ou autora desta pintura mural, em Bogotá |
Outra assinatura que pode ter relação com o graffiti (ou não) |
Graffiti que empresta imagem à Nega Lilu (2010, Candelaria, Bogotá) |
1 comentários