Sobre o peixe preso na rede do arrastão
sábado, novembro 17, 2012
Sobre o peixe preso na
rede do arrastão
para
Brisa Marin <lilucajuina@gmail.com>
data
17 de novembro de 2012 09:48
assunto Sobre o peixe preso na rede do arrastão
enviado
por gmail.com
Minha
querida Brisa,
Em
breve nos encontraremos para a conversa que alinhava o bordado e serei ouvinte
atenta ao que você deseja falar sobre si, sobre mim e sobre nós. Espero por
este momento há algum tempo. E o meu jeito de esperar é diferente do seu... ele
tem uma boa dose de histeria e, vez ou outra, provoca emoções sufocantes e
esperneantes, remexendo tudo, construindo e destruindo, construindo e
destruindo, movimentando placas tectônicas, cristalizando plumas do dente de
leão expostas ao vento de San Sebastian.
Desde
janeiro de 2011, nos vimos bem pouco, mas sempre houve algum tipo de
conectividade. Nessas oportunidades, também não sei por que não foi possível
fechar o ciclo e, por vezes, fiquei tão confusa... muito à mercê da lógica de
seus assentamentos. Quis resolver sozinha, mas não consegui. Fiz várias
tentativas, de naturezas diversas: quântica, sexual, ritualística, artística. E
você não sai de mim.
Nem
por isso as coisas permanecem as mesmas aqui dentro, obviamente. O que sinto
por você vem sendo transformado, inicialmente muito afetado pela inanição e
pelo encharcamento, me conduzindo para a descoberta da vida como ela é, me
apresentando a vulnerabilidades. No entanto, estou bem. Saiba que não dói mais
como antes, mas abala e desorganiza. Meu coração anseia por definições, talvez
aquilo que você chama de traçado final.
Desde
que estivemos juntas pela última vez, tenho refletido sobre o que a convivência
com a depressão fez comigo. Quando o Coletivo começou a prestar serviços para o
seu escritório eu já não estava bem e me apaixonar por você foi como uma rota
de fuga. O meu reencontro com a tristeza foi arrasador, meu bem, ela atalhou e
me pegou de cheio.
Para
enfrentá-la, em janeiro de 2011, me ocupei da produção do livro que planejamos
juntas e dos desdobramentos que você conhece, vislumbrando dois caminhos: a
reedição de uma poderosa arma de sedução e uma jornada profissional ao fundo do
poço como direito de quem ama. Se a primeira opção fosse bem sucedida, eu e
você poderíamos ter uma segunda chance de fazer diferente; e se vingasse a
segunda, seria um fabuloso teste de valentia pagando alto preço para ir e vir
do inferno, tirando partido disso.
Nesse
vaivém sobrou pra todo mundo, pra você também, claro... e não vou falar
novamente sobre isso, porque é um assunto saturado. Não estou mais nessa fase,
ela calou aqui dentro à medida que eu escrevia o blog Nega Lilu, tentando
raciocinar, buscando rumos. Com este conteúdo desejo publicar meu segundo livro.
Sem
conseguir esgotar a pauta represada, te escrevo este e-mail bonito para chegar
até este ponto, o ponto do meu suspiro, porque ainda não compartilhei com você
o que trago de novo... que é a descoberta do erro.
Mais
do que um romance entre iguais, o que vivi com você também não foi a minha mais
eficiente tentativa de busca pela plenitude, como me pareceu num certo momento.
E aqui abro parênteses para dizer que sinto falta do seu beijo, que seu cheiro
é bem do jeito que eu gosto, que nossa conversa parece não ter fim, que te
compreendo e te apoiaria com todas as minhas forças, que você me faz uma pessoa
melhor... e veja se não tenho razões suficientes para apodrecer enroscada na
praia.
Agora
voltando ao assunto principal, tenho orgulho de compartilhar com você a minha
visão. É que entendi que a plenitude não se encontra no Amor, mas na
convivência saudável com o conjunto de sentimentos (bons e ruins) de grandeza
maior que compõem o Ser.
Não
foi fácil chegar até aqui, meu bem, pra descobrir que percorri tudo isso para me
posicionar no Princípio. E como sou valente e tenho tanto amor pra dar e
receber, sigo em busca da paz e da harmonia desse conteúdo derramativo que sou
eu, agora que compreendo a inevitabilidade dessa co-existência — a chave para o
entendimento da diversidade e da complexidade humana. Esta jornada eu pretendo
fazer acompanhada.
Beijo
grande, com gratidão e afeto inabaláveis.
Laura.
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