Sem Palavras: 2 fev 2010 - 21h37
quinta-feira, fevereiro 02, 2012
Sobre June
de Laura
Passing <laura.passing@gmail.com>
para Brisa
Marin <eusoubrisa@gmail.com>
data 2
de fevereiro de 2010 21:37
assunto Sobre
June
enviado por gmail.com
Te falei um pouco sobre Hugh outro dia.
Hoje queria te apresentar June, através dos olhos de Anaïs. Transcrevo
fragmento de seu diário, publicado no livro Henry & June –
Delírios Eróticos, que originou o filme Henry & June, de
Philip Kaufman. No primeiro trecho, parte da carta escrita para Henry. No
segundo, a autora confidencia ao diário elucubrações perturbadas da paixão.
Sem mais palavras. Apenas saudade. Sua.
“Você pergunta coisas contraditórias e
impossíveis. Quer saber que sonhos, que impulsos, que desejos June tem. Nunca
saberá, não através dela. Não, ela não lhe poderia dizer. Mas você percebe que
alegria eu senti em dizer a ela quais são os nossos sentimentos, naquela
linguagem especial? Porque não estou sempre apenas vivendo, apenas seguindo
todas as minhas fantasias; venho à tona para respirar, para compreender.
Estonteei June porque quando nos sentamos juntas a maravilha do momento não me
deixou apenas embriagada; eu a vivi com a consciência do poeta, não com a
consciência dos psicanalistas autores de fórmulas mortas. Chegamos ao clímax,
com nossas duas imaginações. E você bate com a cabeça contra a parede de nosso
mundo, e quer que eu rasgue todos os véus. Quer transformar sensações delicadas,
profundas, vagas, obscuras, voluptuosas em algo que você possa pegar. Você não
pede isso de Dostoiévski. Agradece a Deus pelo caos vivo. Por que, então, quer
saber mais sobre June?”
“June não tem ideias nem fantasias
próprias. Elas lhe são dadas por outros, que são inspirados por seu ser. Hugo
diz com irritação que ela é uma caixa vazia e que eu sou a caixa cheia. Mas
quem quer as ideias, as fantasias, os conteúdos, se a caixa é bela e
inspiradora? Sou inspirada por June, a caixa vazia. Pensar nela no meio do dia
me eleva da vida comum. O mundo nunca foi tão vazio para mim desde que a
conheci. June fornece a carne bela incandescente, a voz fulgurante, os olhos
inescrutáveis, os gestos drogados, a presença, o corpo, a imagem encarnada de
nossas imaginações. O que somos nós? Apenas os criadores. Ela é.”
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