Prazeres heréticos

sábado, março 24, 2012

Na semana em que foi rondada pela morte, em sonho, a Nega fez porra nenhuma ‒ dia e noite ‒ depois de descobrir que estava viva. Alimentou a preguiça, curtiu a gula e acumulou pelo menos quatro pecados capitais sem sentir culpa.

Em isolamento absoluto, cobriu os espelhos da casa, tapou os ouvidos com protetores siliconados translúcidos, tirou toda a roupa do corpo e ficou à vontade para procrastinar e dissimular, permitindo aproximação da natureza vil.

Manifestou ainda o sarcasmo, o desprezo, a mágoa, a raiva, o medo, a dor de cotovelo. No entanto, em contato íntimo com ela mesma, continuou se admirando, se aprovando, desejando se amar e casar-se consigo. A quarentena estava uma delícia. 

Alguém precisava propor pra Igreja Católica uma atualização urgente da lista dos comportamentos humanos que condenam ao inferno. Pois entre os sete oficiais, elegeu para si a Luxúria; para Lilu, reservou o Orgulho. E queria mais.





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