Acordei com aquela cara de origami. Mais de uma hora havia se passado, para além dos quinze minutos. Eu havia dormido tão bem, na rede bicolor. Sonhei que tudo era bom. Repousando no tapete, com o travesseiro que tinha o meu cheiro, você também não havia despertado com o alarme ou talvez o tivesse reprogramado, sem óculos, por mais quinze minutos. Uma concessão...
De uma boa chuva, é disso que o nosso limoeiro precisa. Mas não é tão simples. Tem gente que se culpa por se sentir feliz. Se tá tudo bem, sente que há alguma coisa errada. Aí deixa de molhar o limoeiro na estiagem para ter um motivo pra não ter limões. E põe a culpa na chuva que não veio. A cor que...
A obra de Elisa Arruda é atravessada por paixões, mas não como algo que nos acontece, e sim, como o que somos. Sua poética se configura, como todo discurso amoroso, de forma sinuosa, interrompida por fissuras, hiatos, silêncio. Um silêncio tão denso que dá para cortar com faca. Curiosamente suas representações humanas de silhuetas enegrecidas (que nos remetem, por vezes, a imagens xilogravadas)...
Definição Não se sucumbe à fraude a não ser pela sedução de um lucro, qualquer que seja. Não se cede à pressão da loucura a não ser que ela o faça entrever a realização de um sonho acalentado. Estes jogos tem em comum o seguinte: são muito movimentados, parecem não ter nenhuma regra precisa e não comportar vencedor nem vencido − a teoria...
Liliane despertara bem cedo com a camiseta empapada de suor. Dormira mal com o calor de dezembro e mal conseguira se manter na cama. Olhou em volta, a cabeça pesada, tentando lembrar da noite anterior. Luis dormia aos roncos ao seu lado, o corpo espalhado quase jogando-a ao chão. Ela tirou a camiseta úmida, jogou uma água no rosto e saiu para o...
Decidi fugir. Achei mais fácil do que ficar encarando coisas que não vão mudar mesmo. E a fuga acabou virando um estilo de vida, minha marca registrada. No começo, só fugia daquilo que era grande e medonho, hoje, qualquer coisa que doa é motivo. Quando eu era nova e resistente, aguentava ouvir horas de agressão do meu pai violento com o rosto crispado...
Nós tínhamos treze anos quando comecei a frequentar a sua casa. Eu era amigo da sua irmã mais velha e isso já nos impunha certa distância. Ele me olhava com desconfiança, como se eu quisesse ocupar um lugar que não podia ser meu. Tinha resistência, também, porque os adultos me tratavam como a um igual e a ele ainda como se fosse criança....