Mais um delicado culto lascivo

sábado, julho 07, 2012

Logo no começo, antes mesmo de vingar como expressão, o silêncio era um pacto de manutenção da relação que se sustentava triangular e não consentida. Lilu insistia que não se tratava de hipocrisia, era apenas cuidado para que ninguém sofresse para além da carga cármica. 

A ausência de palavras também se instalou quando a Nega sentiu a alma pesar, já que o coração estava todo ocupado pela Flor de Cajueiro. Como se sabe, trazer à tona a miséria dos amantes nunca é estratégico para quem está de passagem. A fim de aliviar a mordaça, a Nega contou, no entanto, somente à sua amada que não tinha vocação para compartilhar aquele amor e que, para ela, não havia leveza na coadjuvância. 

Em seguida, como é característico do oprimido, ela fez dos limites seus super poderes: dizer nada era tornar-se invisível. E por baixo de um manto encantado rolaram minguadas, concentradas e deliciosas sacanagens. Só delas e de mais ninguém. 

Nada mais erótico do que a intimidade protegida pelo excêntrico prazer de se guardar segredos.  

O fragmento do conto Sem Palavras que sintetiza este estado que agrega respeito, busca de auto-regulação e louco tesão pelo não declarado é o teor da mensagem na garrafa que foi levada para a capital capixaba. A obra de Mateus Dutra circulou pelo centro de Vitória, no Espírito Santo, durante o Festival ES de Dança, quando a Nega Lilu Cia de Dança apresentou o espetáculo Nega Lilu, no Theatro Carlos Gomes.     

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