Desencanto

domingo, setembro 02, 2012


— Não pare, por favor. Viro abóbora!

E de olhos fechados ficou caladinha convivendo com o tempo até o instante do inevitável. Recontava histórias, mentalmente, orgulhosa de se lembrar de diálogos marcantes, enquanto isso.

Cem anos de solidão se passaram naquelas duas semanas e, sentindo nada, teve valentia para observar seu corpo transformado. Uma estabilidade invasora havia se instalado. E sem fluir nem levitar, a Nega não poderia confirmar ainda se estava bem. É que seu coração pulsava frio, trabalhando sem paixão.

Havia o vazio, o silêncio, a ausência de dor. Não estava mais ali, esperava nada, mal se reconhecia, seus parâmetros tinham se perdido.

— Para onde foi meu pensamento em você?


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