O episódio da Nega responsável

terça-feira, setembro 04, 2012

Queria ver a Nega de perto sempre que bebia umas cervejas a mais. Pensava em sexo, basicamente. E dedicava o tempo de duração da ressaca à auto-análise, com estranhamento, recobrando a soltura orientada pela espontaneidade que se escondia no “quarto quadrante” de seu centro de força (Power House). Em seguida, recuava sóbria, confundindo a Nega.

O primeiro beijo foi tão bom e prometia tantos outros. Caíram na cama e uma disse pra outra: eu posso ser irresponsável com você amanhã. OK... OK? OK. Beijo, beijo. Tudo OK. Muitos beijos mais, interrompidos somente para que a nudez de uma fosse consumada. A outra disse que não, que não era dia bom não, mas levou pra casa uma mordida, na parte interna da coxa, bem no lugarzinho onde passa o elástico da calcinha.

Como foi embora sem se dar, abriu margem ampliada de erro nas hipóteses criadas pela Nega para a compreensão do alerta feito pela Neguinha. Primeiro pensou: texto formulado ‒ deve dizer pra todas, porque quer ninguém pegando no pé.  Se tivesse soado dramático, poderia ser uma tentativa de convencimento à desistência. Talvez também um disfarce simplório de certa inexperiência, utilizando-se, contraditoriamente, de um recurso típico de quem pega todas. Outras duas opções seriam: o medo do pedido romântico de casamento na madrugada ou, finalmente, mero ataque de lucidez racional.

A apresentação das cinco possibilidades foi tão bem-sucedida que rolou um segundo encontro. Sem calcinhas. As polaridades ficaram expostas e, na tentativa de ajustes no como fazer, acabaram se desentendendo sutilmente e se recolhendo a seus limites.

Pois a Nega quis dormir juntinho dela para que a segunda-feira trouxesse chance de exibir sua generosidade, sua delicadeza e para que pudesse sentir aquele potencial fantástico que a outra tinha de fazer carinho de um jeito tão próprio, encantador. Contagiada pela sinceridade e sentindo-se compreendida, então a Neguinha fez o contrário do que havia anunciado, inicialmente. Avisou à Nega que jamais conseguiria apagar seu fogo.

Lilu. Balbuciou a outra, feliz por ter se jogado.

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