Sem Palavras: 21 set 2010 - 21h49
sexta-feira, setembro 21, 2012
Pelo fim das malcriações
de Laura
Passing <negadeneve@gmail.com>
para Brisa
Marin <lilucajuina@gmail.com>
data 21
de setembro de 2010 21:49
assunto Pelo
fim das malcriações
enviado por gmail.com
Querida Brisa,
Você me disse um dia que havia resolvido
escrever um e-mail para a Bárbara, na tentativa de conseguir se expressar
melhor e de ser compreendida. Resolvi fazer algo parecido após nossa primeira
conversa telefônica de hoje, porque ontem também havia percebido um fio de luz
atravessando couraças enquanto nos falávamos.
Também não sei quem começou a fazer
“malcriações”. De minha parte, tenho consciência da ausência de paixão por
coisas que continuo fazendo e me dedicando a realizar da melhor forma para
atender às demandas de trabalho do Coletivo com o seu escritório. E tudo porque
muita coisa deixou de fazer sentido na minha vida. Os domingos então... você
não tem ideia.
Gosto de carinho, tenho pavor da aridez.
Quando discutimos ou nos repetimos sem encontrar razão uma na outra, eu fico
pensando se não seria bom eu tirar férias (como você fez...rs). Tem hora, tem
dia que quero mesmo é sair por aí e não voltar mais. Um pouco naquela linha de
correr pelada no centro ou viajar para um lugar distante onde não haja
conhecidos, como Belém, para onde embarco no dia 8. Mas volto.
Sendo uma criatura emocional, não é muito
fácil buscar novos sentidos após ter sido interrompida durante alta
performance. Complica também a ressignificação recente de um bocado de emoções,
coisas e lugares. Você sabe: não fecho ciclos com facilidade... admiro quem é
capaz de fazê-lo.
Às vezes tenho umas recaídas e acho
normal, sendo quem eu sou. Não compro mais tomates ou Red Bull, mas sempre que
os vejo penso em você. O mesmo acontece com capoeira, água com gás, a lua,
Benito de Paula, flores, Rio de Janeiro, vermelho, chá, a brisa do mar, sorvete
de graviola.
Praticando verbos no passado, minha missão
mais recente é te enxergar inteira porque assim não me esqueço de que sei quem
você é e como você é. De outra forma, a tendência é acessar fragmentos gravados
na minha retina de seu pescoço, bunda, costas, xoxota, orelha, beicinho
superior, orientação que também me dá acesso a coisas de que não gosto e que
voltaram para você. Ou talvez você tenha voltado pra elas.
Também queria te contar que nosso livro
vai bem e em breve ficará pronto! Concluí a decupagem do conteúdo produzido
diariamente via e-mails e chats e estou em fase bruta de montagem, ainda sem
editá-lo. Sempre que abro o arquivo para trabalhar, acho que é aquilo mesmo e
me convenço de que o texto tem valor literário. Descobri que o detalhamento do
conteúdo, com registro de datas e horários inclusive, enriquece a documentação
de um romance que teve êxtase incontrolável e que, próximo do fim, deixa para o
leitor a sensação de ter se distraído e perdido alguma coisa. Acho que vai ser
bonito. E o fim é uma incógnita, porque não tivemos tempo de avançar juntas em
alguns dos projetos de Nega e Lilu.
Em tempo: a minha busca por transformação
começou antes de te encontrar e está em curso.
Beijo.
Laura
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