Love is dead
domingo, setembro 23, 2012
Prova de valentia era passar pelo
domingo e presenciar sua passagem. Setembro havia inaugurado, para Laura
Passing, dias sem plano, sem planos, sem brisa, arrastados na companhia de si
mesma. Vagava apática pela cidade curtindo a tristeza, fotografando, construindo
ficção, se sentindo amada.
Havia confessado a Brisa Marin, no
último e-mail, sua dificuldade em fechar ciclos, como quem avisa que vai
permanecer até o esgotamento do Amor. Até provar o sertão e vomitar a bile. Não
suspeitava o quanto agonizaria nesta Operação Kamikaze mais longa de todos
os tempos, mas estava segura de que iria até o fim e de que o fundo do poço era
um direito dela, como um privilégio disfarçado.
Enquanto isso, editava o livro Sem Palavras, compilando a
correspondência mantida com a Flor de Cajueiro, entre 6 de novembro até aquele momento.
E para a escrita do fim, ainda indefinido, tinha agora o Tempo como co-autor.
Assim como Angelina Calle, no
Capítulo IV do conto Sem Palavras, Laura
sondava novos rumos, onde quer que fosse. Desejava profundamente o reencontro
com sua amada ou a desconexão completa e irreversível daquelas emoções obcecadas
pelo presente. Finalizar o livro era uma dessas artimanhas, assim como a
anunciada viagem a Belém. Além disso, faria qualquer coisa.
Certo dia, ouvindo Mutantes mais
uma vez, se deparou com uma mensagem que ainda não havia se revelado, contida em
Panis et Circenses. Então, para o domingo fez compromisso consigo, às cinco horas, na avenida central. Tinha tudo o que
precisava para cumprir o rito, exceto um punhal.
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