Fiz uma pergunta
sobre o coração partido, e a resposta veio de outro lugar.
É
que as mandíbulas, ela disse, são o oráculo
verdadeiro, a boca que abre profecias, e eu venho te dizer. Que entre um
músculo e outro, ducto paroctídeo e ptegorídeo lateral, existem algumas letras
suas que ficaram pra trás. Nascidas do seu peito estômago intestino, e às vezes
de outros espaços até menos prováveis, em mim é onde morreram aquelas palavras,
meu amor, perdidas entre o aqui e o ontem, que você esqueceu no não dito, no
desdito, no esquecido e no falado pouco demais.
Guardo
pra você aquilo que você não quis dizer na última hora. Tudo o que não
conseguiu esquecer, mas que também não tem vontade de lembrar. Guardo com
cuidado as frases que atravessaram veias, garganta e outros túneis pra chegar
aqui sem encontrar a coragem que precisavam pra passar pro outro lado. E é nos
meus dentes, sim, que você aperta forte Aquilo Que Quase, Por Pouco.
Veja só, que tudo que inventaram pra falar de mim é feio demais. Goela, mandíbula, ptegorídeo, glote. Mas sou eu, e é o seu bruxismo, que estancamos a sangria daquele lado do seu coração que ficou estragado.
Veja só, que tudo que inventaram pra falar de mim é feio demais. Goela, mandíbula, ptegorídeo, glote. Mas sou eu, e é o seu bruxismo, que estancamos a sangria daquele lado do seu coração que ficou estragado.
Ilustração: "Monstro" de Mariana Carpanezzi
Mariana
Carpanezzi vive em Brasília, onde escreve, desenha e faz livros improváveis.
Publicou O mundo sem anéis em
dezembro de 2015, e Porque tudo começa do
mesmo lugar em 2016 – este ultimo em parceria com a ilustradora Luda Lima.
Publica pelo Supernova e pelo Longe, dois selos independentes formados por
amigos, amor e vontade de espalhar letrinhas subversivas por todos os lados.
Canais
da Mariana: