Sophia Pinheiro
Artista goiana denuncia violência protagonizada pelo Estado brasileiro em exposição coletiva na Paraíba
Amarildo Dias de Souza, 47
anos, Claudia da Silva Ferreira, 38 anos, e Eduardo de Jesus, 10 anos, assassinados
pela polícia militar do Rio de Janeiro no Morro da Congonha, Rocinha e Morro do
Alemão. Roberto de Souza, 16 anos, Carlos Eduardo da Silva Souza, 16, Cleiton
Corrêa de Souza, 18, Wesley Castro, 20, e Wilton Esteves Domingos Junior, 20,
assassinados por 111 tiros deflagrados pela PM-RJ contra o carro que estavam em
Costa Barros, subúrbio do RJ. Luana Barbosa dos Reis, 34 anos, mulher, negra e
homossexual, espancada pela PM de Ribeirão Preto (SP). Laura Vermont, jovem
transexual assassinada pela polícia militar na Zona Leste de São Paulo. Araceli
Cabrera Crespo, 8 anos, raptada, drogada, estuprada, morta e carbonizada, no
Espírito Santo (SP), em 1973. A indígena Guarani-kaiowá Marinalva Manoel, 27
anos, estuprada e assassinada com 35 facadas no Mato Grosso do Sul em 2014.
Anônimos, invisibilizados,
violentados e injustiçados são protagonistas de Notas de Falecimento, obra da artista goiana Sophia Pinheiro, que integra
a exposição coletiva “Etnopoéticas da Imagem”, até 14 de julho, na Fundação
Cultural de João Pessoa, em João Pessoa/PB. A mostra propõe um diálogo entre
artistas visuais, antropólogos e fotógrafos paraibanos e de outros estados do
país, com curadoria de Fabiano Regenhaux.
“Etnopoéticas da
Imagem” bebe da fonte da etnografia, uma ferramenta metodológica da
antropologia que concebe as culturas para além do texto escrito,
abrangendo
sensibilidades. Segundo Fabiano Regenhaux, etnopoesia é um termo cunhado pelo
poeta beatnik Jerome Rothenberg para promover tradução e interface das
manifestações verbais de culturas não ocidentais, com as formas de tradução
provenientes de padrões da literatura ocidental.
O conjunto em
exibição na Fundação Cultural de João Pessoa é resultado do 1° Laboratório de
Curadoria, desenvolvido pela Galeria Casarão para a formação de jovens
curadores e estímulo da produção crítica. Sophia Pinheiro é a única goiana selecionada,
entre os 12 artistas expositores, para apresentar seu trabalho etnopoético. Ela
expõe na companhia de Barbara Wagner e Benjamin de Burca (PE/Alemanha), Sarapó
Pankararu e Renato Athias (PE), Potira Maia (PB), Roncalli Dantas (PB), Tony
Neto (PB), Emiliano Dantas (PE), Renato Athias (PE), Philipi Bandeira (CE), Kel
Baster (MG), Ricardo Peixoto (PB) e Saullo Dannylck (PB).
Em Notas de Falecimento (2016), Sophia
Pinheiro, apresenta 12 notas de “cem reais” estampadas com o busto de pessoas
marcadas pela violência dos abusos de poder. “Todos os dias o Estado brasileiro produz
Notas de Falecimento. Quanto vale essas vidas? As notas são circuladas pelo
sangue dessas vidas marcadas pelas ausências”, comenta.
A artista
propõe uma reflexão sobre a violência, protagonizada pelo aparelho estatal
brasileiro e subsidiada por interesses econômicos, expondo rostos de
brasileiras e brasileiros assassinados, ressaltando os marcadores sociais da
diferença (gênero, classe, étnico-racial) que estão exprimidos nestes
homicídios.