Pequeno conto pré-carnavalesco

sábado, janeiro 03, 2015

A Elaine falou que a Alice amanheceu febril. Que pena... ela estava muito animada para o encontro com o Papai Noel. As fixações dela neste natal eram Mickey e Polly, mas, de presente, dei pra ela um cristal...rs. Foi quando avaliei com compreensão ampliada o sentimento nas ocasiões em que ganhei uma árvore, a lua no céu... enfim, a matéria disponível que não tocamos e que não nos toca, corriqueiramente.

Sem nenhum afeto por mim, Alice teria perdido aquela pedra na primeira oportunidade. Como pode ter ocorrido com René, o menino que suportou a minha presença no Córrego da Preguiça, sem debandar. Ele me falou sobre as coisas que era capaz de fazer, na água, saltando da pedra. Parecia querer me bagunçar, me desviar de minha ocupação prioritária: lavar os cacos de cristais trazidos da caminhada.

Recomendei a ele então que tomasse cuidado: “Você sabe que não deve saltar de cabeça, né?”. Claro, René sabia de muita coisa... e não usava repelente. Pra desejar sorte, também deixei pra ele um cristal cuidadosamente escolhido. “Pode colocar aí na pedra”, ordenou.

No dia seguinte, passando de bike em frente à casa do Moacir, topei com o moleque vestido de domingo pra ver o Bom Velhinho acompanhado do pai. Fiz sinal com a mão e cumprimentei: Tudo bem, René? Pedalando devagar ouvi ao longe: “...conheci na Preguiça, tava lavando as pedras dela”. Na minha cabeça, de súbito, o moleque correria até nosso ponto de encontro, barrelando o sapato, pra ver se o presente esquecido havia sido encontrado por outra pessoa.

* Inspirado por fator reais, ocorridos na véspera de natal, no Povoado de São Jorge, na Chapada dos Veadeiros.



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