Sem título 10 │ Larissa Mundim (GO)
terça-feira, janeiro 31, 2017
Acordei com aquela cara de origami. Mais de uma hora havia
se passado, para além dos quinze minutos. Eu havia dormido tão bem, na rede bicolor.
Sonhei que tudo era bom.
Repousando no tapete, com o travesseiro que tinha o meu
cheiro, você também não havia despertado com o alarme ou talvez o tivesse
reprogramado, sem óculos, por mais quinze minutos. Uma concessão ao sono dos
justos, apenas.
Há muitos anos não dormíamos juntas. E nunca dormimos. Porque
eu sempre estive meio acordada. Agora íntimas, mas distanciadas, prevalecia a
dúvida da pessoa que não pode te acordar como melhor sabe fazer.
Na penumbra da sala, antes de tomar qualquer providência,
reconheci que o tratamento que te reservo e a maneira como penso em você são próprios
de um casamento − com amor
envolvido, sem beijo, sem sexo e ausências. Ou seja, não é um casamento. Mas é
como se fosse... Não, não é.
Reuni então toda a delicadeza disponível naquela Lua nova em
Leão e toquei, glacialmente, a sua pele, te chamando pelo nome.
Alvoroço.
Paralisada, te ofereci outro canto, apenas enquanto passava
o estupor da madrugada. Mais macio, mais quentinho, só seu, protegido de mim. E
na hora combinada, te acordei telepaticamente, pousando meus olhos de tsuru no
seu silêncio, menosprezando detalhes.
Foto: Larissa Mundim
Foto: Larissa Mundim
Larissa Mundim é escritora e jornalista, diretora da Nega Lilu Editora e fundadora do Coletivo Esfinge (2009) e do Coletivo e/ou (2015). Militante dos direitos humanos. Acredita que somente alguns emoticons podem transmitir certos sentimentos.
Canal da Larissa:
https://www.facebook.com/soupermitida
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