A obra paciente

quarta-feira, agosto 28, 2013

A vivência artística que originou a fundação do Coletivo Esfinge e as ações que comentam, transformam e difundem a história ficcional de Nega & Lilu estão em curso há três anos e meio agora. A versão bruta do livro Sem Palavras já tinha sido finalizada em novembro de 2011 e não sabíamos bem o que fazer com o conteúdo — era preciso testá-lo, era necessário identificar seu público, a aceitação da temática e a amigabilidade de seu formato pouco usual, inédito no mercado literário brasileiro.

No 3 de janeiro de 2012, depois de mergulhar em Grande Sertão: Veredas, decidi então abrir um blog para dar vasão à produção. Em homenagem a Machado de Assis (em Dom Casmurro), promovi a fusão do nome das duas protagonistas do livro e o batizei de Nega Lilu. Como todo o conteúdo do livro é datado, porque é composto por chats e e-mails trocados por Laura e Brisa, achei coerente que a publicação dele, no blog, fosse guiada pelo dia e pela hora em que a correspondência ocorria entre as personagens. Com deslocamento de dois anos, topei conduzir um processo de recriação a partir do emparelhamento de passado e presente, no espaço virtual.

A lacuna entre 3 janeiro e 6 de novembro de 2011, quando os primeiros conteúdos passariam a ser disponibilizados, precisaria ser preenchida de alguma forma. A ideia era preparar o leitor, instigá-lo para a chegada das meninas, oferecendo a ele literatura cuja diegese (realidade da narrativa ficcional) contemplasse o momento posterior ao final de Sem Palavras, como se fosse uma continuação que se antecipasse à obra principal, uma história contada de trás pra frente, num processo construtivo em tempo real.

Até a chegada do carnaval, quando comecei a divulgar o blog, produzi pequena quantidade de conteúdo não publicizado, convidando à leitura apenas meia dúzia de bons amigos e recomendei: fiquem à vontade para me destruir. Mas nenhum deles costuma seguir meus conselhos e fiquei sem feedbacks críticos. Havia, no entanto, o silêncio como incentivo.

A democratização de acesso à obra se inicia então, pelas redes sociais, no dia pré carnavalesco em que, encorajada por mim mesma, resolvi colocar o “blog na rua”. Fiz experiências no Facebook, ainda com perfil pessoal, e pedi ajuda ao jornalista amigo Rodrigo Oliveira pra desvendar o Twitter, durante um cafezinho, depois das 19 horas. Os trabalhos do Coletivo Esfinge sempre tiveram apoio importante da imprensa formal (jornais, rádios e TVs), mas é nas mídias sociais que Nega Lilu se esparramou, seu ambiente natural, território de sua criação, desenvolvimento e sustentação.

Tenho formação em Comunicação, mas confesso que experimentei muitíssimo por falta de conhecimento das ferramentas, pela ausência de fórmulas pré-existentes, pela especificidade desse produto artístico, pela dinâmica voraz e consumista da convivência em rede e também pela aventura de me lançar, sendo uma ariana às vezes típica. Aprendemos com acertos e muitos erros, estamos em constante aprimoramento, atentos ao comportamento das massas e curiosos pelos detalhes, idiossincrasias encantadoras que possam fazer de nosso trabalho algo inspirador.

Comecei a escrever desembestada, parei aqui para respirar e perceber o que eu estava fazendo. Nada de novo, mais um recorte histórico desse trabalho que já conta com mais de 100 colaboradores em todo o mundo. De um jeito intuitivo, devo estar buscando lucidez para compreensão plena e para alcance da dimensão do que fizemos, de como nos movemos até aqui, sublimando o presente, me ocupando do futuro que vem chegando devagarinho para dar passagem a Sem Palavras, que suportou a espera e, desde ontem, está pronto para fluir.


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