Sem título │ Jaime Brasil (RR)

terça-feira, março 21, 2017


Ando farto de amenidades e de olhares temerosos.
As pessoas esperam por um momento ideal para começar a viver. Mas, o vento vem antes da chuva, o mormaço antes do vento, e a morte antes de tudo.
Nos finais de semana alguns copulam como lagartas, babam feito ruminantes, e quaram como iguanas ao sol.
É preciso lembrar: pimenta murupi não é tempero. É fruto sagrado da erva. É o perfume do fogo. Legado dos nossos ancestrais. Quem quiser dar o próximo passo, pode começar por aí.
Não me perdoem os excessos. Nos altos céus reinam os urubus. No olho d’água germinam os girinos. Em nós, tudo o que é selvagem também é humano.
Cai como uma luva sobre a minha mão a água da biqueira. Escuto os trovões, o sermão das tempestades no telhado de zinco, e os mantras sobre a velha lata de tinta a cada gota desgarrada que lhe cai. Há muitas escalas musicais no acaso.
Nos sons da tempestade cabem todas as sílabas de todas as palavras de todos os livros.
Lê quem quer.

Ilustração: Luana Santa Brígida


 Jaime Brasil é poeta e Defensor Público, em Boa Vista (RR). Sempre foi dado às palavras. Em 2014, lançou em São Paulo o livro “Não”, pela Editora da Casa, prefaciado pelo poeta Luiz Roberto Guedes, com capa da artista visual Ina Carolina. Teve um poema publicado no livro “70 Poemas para Adorno”, organizado e produzido por Vítor Sousa, e lançado no Festival Literário da Madeira, Portugal. É articulista da Folha de Boa Vista. Gosta de exageros, de mágicas revoluções e transcendências.

Canais do Jaime:
facebook.com/jaime.brasilfilho



Luana Santa Brígida é artista visual e designer gráfico. Desenvolve pesquisa de representação afetiva e poética sobre o Cerrado, em especial de sua flora e avifauna. Por meio de ilustrações e impressos autorais retrata a sensibilidade da biodiversidade do Brasil Central.

 Canais da Santa Brígida:
Instagram: @santa.brigida
Facebook: luanasantabrigida



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