Sobre o magnetismo como estímulo da permanência │ Larissa Mundim (GO)

terça-feira, março 07, 2017


O peito ofegante estava em contato com a camiseta molhada de suor, gélida no estupor da madrugada. O passaporte... o passaporte! Com todos os olhos bem abertos percebeu vultos se agitando no quarto escuro. A confusão mental começou a se dissipar à medida que ia tomando conhecimento de seu corpo.

Não chegou a se levantar e seguir sem rumo pela casa, apalpando paredes. Com torção na coluna, aquele corpo estirado de costas manteve a atenção roubada do plano onírico voltada para o cantinho superior esquerdo do guarda-roupas. E ficou ali. Mediando a entrada e a saída do ar, temendo que lhe faltasse vida a qualquer momento. Inspirava em pânico, expirava apenas porque era como os pulmões trabalhavam. Teve medo de perder o controle, medo de deixar as coisas serem como são.

E o silêncio era profundo. E não havia mais ninguém. Todo ensaio fracassou quando, finalmente, gritou perdendo noções de convivência consigo. Observava nada porque a luz estava apagada, mas se sentia atraída naquela direção. Um chamado intermitente, irresistível, sem comunicação direta.

Era o seu encontro com o sem fim. Moto-contínuo sem perda térmica, só pararia ao morrer. Como uma longa carreira de dominós ativada. Ou como um plano suicida executado com sucesso.

Ilustração: Sophia Pinheiro


Larissa Mundim é escritora e jornalista, diretora da Nega Lilu Editora e fundadora do Coletivo Esfinge (2009) e do Coletivo e/ou (2015). Militante dos direitos humanos. Acredita que somente alguns emoticons podem transmitir certos sentimentos.

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Sophia Pinheiro vive de políticas poéticas, como pensadora visual, trabalha para fomentar sua imaginação e libertar os monstros criativos. Faz de pouco, um tudo: ilustração, artes visuais, design gráfico, fotografia, arte e tecnologia, vídeoarte, antropologia e produção cultural em arte e design. 

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