Simples assim (after Ana Maria Morais e Rute Guedes)

sábado, janeiro 28, 2012

A busca da Nega pela simplicidade não avalizaria a convivência com o ordinário. Ainda que fosse bom pra saúde, morreria tentando administrar o pavor provocado pela sensação de perda de tempo. Havia um horizonte tão largo ali na frente e sua contemplação se tornava cada vez mais solitária à medida que os segundos formavam horas e que os dias esculpiam novos detalhes fisionômicos publicamente perceptíveis somente na totalidade.

Era preciso retornar a Bruxelas, mesmo tendo chegado de lá recentemente. Era preciso fazer uma busca focada de um lugar, visitado há mais de 10 anos, que ela havia considerado, para a ocasião, uma síntese do simples.

A imagem transformada pelos ruídos que atacaram sua memória na última década se mantinha fresca, transportando a Nega para um ambiente sem excessos, que respeitava a simbologia de todas as coisas. Na parte antiga da cidade, próximo ao arco que ostentava um brasão e também perto de um pub centenário com centenas de cervejas disponíveis, uma porta aberta na pedra. Escadas talvez, conduzindo à nave da igreja de piso de taboa corrida. Linhas retas nos longos bancos de madeira dispostos lateralmente, à direita e à esquerda, abrindo um corredor para o altar composto somente por uma mesa que pertencia ao conjunto, em tom ligeiramente mais escuro, coberta de renda branca. Ali havia uma rosa. Vermelha, talvez. E um crucifixo polido de prata na parede do fundo, que era de pedra, reforçando sua etílica impressão, afetada pela estética espartana, de que o santuário havia sido incrustado.

Se sentindo perto do coração, a Nega incrédula quedou-se e fez uma oração.

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