Lilu está aqui
sexta-feira, outubro 14, 2011A Nega almoçava com aquele amigo que garante que cinco trepadas ao dia não é muito comum, mas existe. O assunto rolava do campo profissional para o pessoal com a abertura que é própria dos momentos de revelação e aconselhamento. Porque o amigo da Nega é um daqueles observadores do curso das coisas que, quando compartilha conhecimentos, não deixa dúvidas de que já amou, já sofreu, e está vivo.
― Você está bem, Laura? perguntou ele, diante da pausa da Nega.
Sem dizer palavra, permaneceu como estava por um tempo mais: mão direita espalmada no lado esquerdo do peito. Respiração ligeiramente alterada, olhou de um lado e do outro, praticando o tempo do gesto em 16 milímetros.
Sem dizer palavra, permaneceu como estava por um tempo mais: mão direita espalmada no lado esquerdo do peito. Respiração ligeiramente alterada, olhou de um lado e do outro, praticando o tempo do gesto em 16 milímetros.
― Meu coração avisa que Lilu está aqui. Comentou finalmente a Nega, retomando o fôlego, mas não a concentração na conversa.
A confirmação chegou no início da tarde, no torpedo em que flor de cajueiro se manifestava vagamente: “Vou...”, abrindo um grande sol em meus pensamentos.
É que no dia anterior ao encontro com o amigo folclorista, num ato falho, Nega havia ligado para Lilu. Foi um misto de desespero e alívio pela ruptura do silêncio, no instante que um botão foi pressionado, uma chamada telefônica involuntária estava sendo realizada e a lava escorria pelas paredes externas do Pichincha. Trilha sonora era: “…Planet Earth is blue and there’s nothing I can do…”. Chamada natimorta finalizada. Rola um sms constrangido: “Oooops... engano.” E mais que rapidamente um sms foda-se: “Você vem me visitar?”
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