Pienso en ti

domingo, outubro 30, 2011

Um dia abriria a porta pra você em posição estratégica para fechá-la sem perder contato com seus olhos. O que haveria pra mim e pra você naquele momento seriam hipóteses apenas, e desta vez eu não as teria formulado por pura incapacidade de acessar o passado, naturalmente concentrada avante ‒ com Lilu e sem Lilu. Um delicioso exercício de ausência dos lugares onde me conheço de cor, pisando em areia movediça. A fuga de mim, o encontro com o outro, a entrega à armadilha que é sumidouro de minha alma. 

Reconheço o encaixe dos corpos, modificados. Seu cheiro é tão familiar quanto o meu, pra mim. Meus lábios buscam seu pescoço sem pressa, acariciando o percurso que encontro até os seus. Suspiros quase simultâneos me alertam para o fato de que somos duas.

― Saudade.

Praticamente dois anos deslocadas do instante inaugural de nossa intimidade, aquele beijo tinha gosto de ficção, porque aconteceu como estava escrito. Mas era tão real quanto o tempo passado, marcando a pele com tinta e o coração com fogo.

Minha língua toca seu lábio superior porque não há outro destino que não o da vertigem do mergulho da gaivota. Excitação sexual instantânea seguida de sutil afastamento dos corpos. As coisas não haviam mudado entre nós, agora era apenas diferente.

A impetuosidade estava ali, guardada para o momento seguinte, se ele existisse, porque o Amor amadurecera os impulsos, construindo fantasias mais ousadas.

― Saudade.


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