O episódio da Nega dos sete instrumentos

sábado, setembro 22, 2012


A Nega chegou doente de Amor na casa de uma Nega especializada em paradas quânticas. Até o momento, não havia percorrido centros espíritas, sessões de descarrego com matriz Luterana distante, terreiros de umbanda ou divãs. No entanto, de forma amadora já tentava dragar do coração aquela dor e, por isso, cedeu bem facinho àquele convite sem precedentes.

Todas as coisas tinham lugar naquela residência de mulher solteira. Um quê de espartano em todo canto ajudava na manutenção da ordem. O silêncio da noite reforçava a sensação de assepsia, que fazia a Nega se sentir submetida a um laboratório aconchegante, aquecido pelo bule de chá e pela fervura de caldeirão da bruxa boa, que a observava fixamente, como se a despisse, com sorriso inabalável.

Dói aqui? Perguntou, apalpando a outra. A Nega disse que não e que sim, confusa no contato das mãos um tanto frias. Estava completamente nua diante daquele olhar e foi se entregando à delicadeza do toque que, querendo mapear a dor, dava notícias de que aquele corpo estava vivíssimo.

Naquela noite, não se abraçaram, nem se beijaram, mas houve troca de intimidades desconcertantes. Tudo porque a Nega sempre quis que tocassem um instrumento só pra ela: fetiches de um coração que bate binário, mas acusa descompasso diante da beleza revelada. 

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