Singela homenagem a Vinicius
sábado, outubro 19, 2013
O sentimento era recíproco. Como não amar, e
odiar eventualmente, aquele que foi a inspiração maior para a escrita de um
livro de sucesso. Vilaça atravessava os pensamentos de Maria Tereza, quase
diariamente, há sete anos agora. O tórrido romance havia durado, possivelmente,
18 meses, mas nunca se desvencilharam um do outro, totalmente. Ela costumava dizer que
estavam ligados por um fio muito tênue, permitindo distanciamento, sem desconexão
real.
Com o tempo, transformaram o estado da relação e
aquele amor foi se perpetuando sem rótulos convencionais, com sexo e depois sem
sexo, nos raros encontros de duas horas, marcados para tecerem comentários sem
fim sobre a obra de ficção que os unia.
Os últimos encontros haviam sido bastante
agradáveis, mais descontraídos, sem o cuidado excessivo na escolha das
palavras, no entanto, igualmente excitantes, atentos. Aquele par de
horas era como um patrimônio, um território ritualizado para a demonstração de franqueza, carinho e simplicidade.
— Não
haveria verdade na obra se tivéssemos sido felizes para sempre, como eu tanto quis.
Ficar sem você foi muito difícil pra mim, eu não sabia o que fazer com aquele
amor tão poderoso represado. Conheci a depressão, me aproximei das misérias, estive
morta em vida. Num segundo momento, refletir sobre as humanidades abrandou meu
sofrimento e me indicou rumos literários que, entre outras coisas, trouxeram
Raul até mim. Confesso, Vilaça, que ainda não estou preparada para repetir a
dose, mas sou grata a você. Revelou certa vez, Maria Tereza, com o Sertão
estampado na cara.
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