Sobre a disponibilidade do invisível
terça-feira, novembro 11, 2014
Eu procurava uma imagem para a capa de Agora eu te amo. Uma referência aos devaneios da personagem Suzana, a bela
mulher deprimida que, deitada em sua cama, noite após noite, observa o momento
de transformação da sereia em espuma, por causa do Amor.
A ilustradora Ana Christina da Rocha Lima, autora da capa do
meu primeiro livro (Sem Palavras), me
apresentou um desenho pré-existente: a gueixa acolhendo nos braços o sereio em
estado terminal. Reminiscência de uma série sobre amores impossíveis, produzida
com lápis de cor. Pura delicadeza. Amei imediatamente. O diabo é que aquele formato
horizontalizado não atendia às necessidades da capa.
Emulando Suzana, fiquei na cama pra esquecer aquele achado. Ah... minha velha conhecida, parceira insone, o platô sideral de onde muitas decisões vingaram, como a determinação de abrir o blog
Nega Lilu, na madrugada de 3 de janeiro de 2011.
Antes de enfrentar a angústia da capa, neste
meu livro dedicado a Vinicius de Moraes, eu havia escrito que aquela mulher quase japonesa se deitava cercada de obras de arte que, eventualmente, variavam de posição, exceto uma —
aquela que eu desejava encontrar. E que estava agora diante de meus olhos.
Se eu fosse mesmo Suzana, natural seria transportar aquela imagem flutuante na penumbra do quarto, para a capa de Agora eu te amo. No entanto, minha obra é de ficção, motivo suficiente para me assombrar ao perceber sintoma de ruptura das bordas do real e do imaginário. Como se tudo já tivesse sido definido por mim mesma e aguardava reconhecimento, apenas. Tipo filme do David Lynch. rs
Se eu fosse mesmo Suzana, natural seria transportar aquela imagem flutuante na penumbra do quarto, para a capa de Agora eu te amo. No entanto, minha obra é de ficção, motivo suficiente para me assombrar ao perceber sintoma de ruptura das bordas do real e do imaginário. Como se tudo já tivesse sido definido por mim mesma e aguardava reconhecimento, apenas. Tipo filme do David Lynch. rs
Finalmente, experimentei aquela sensação de iluminação.
Confirmei que a busca era pela imagem que sempre esteve disponível e que, no
plano inconsciente, a foto havia me inspirado mais do que a capa, também o capítulo
em que rola barraco entre Eros e Chronus, porque o Amor está se fudendo para o Tempo.
A bela foto de Lu Barcelos, que é capa de Agora eu te amo, me foi presenteada pela fotógrafa amiga, na noite de lançamento de Sem Palavras (Nega Lilu Editora). Deve ser aquela velha história que conheço: um fim em busca de um começo, em busca de um fim, em busca de um começo.
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