Movimento de translação iniciado - Parte 1
terça-feira, outubro 20, 2015
A primeira versão do livro Sem Palavras, escrito por mim [Larissa Mundim] e por Valentina Prado, publicado
pela Nega Lilu Editora, já tinha sido finalizada em novembro de 2010 e eu
não sabia o que fazer. Diante do ineditismo da literatura naquela forma, no
mercado editorial brasileiro, era preciso testá-lo, era necessário identificar público-alvo
e sondar a empatia do leitor com sua arquitetura e estética ainda pouco usuais.
Tudo tão embaçado quanto desafiador no marco zero.
Na madrugada de 3 de janeiro de 2011, ainda quarando
a sensação de ter perdido alguém ou alguma coisa, depois de vários dias mergulhada
no universo de Guimarães Rosa, decidi então abrir um blog para dar vazão à produção,
publicando os textos do livro. (E o blog é este aqui, que busca frescor para retomar atividades criativas e ir de encontro ao novo. Um jeito meu de fazer isso é ir de volta ao ponto de partida, encontrar a origem. Vem comigo, vamos juntos até o princípio...)
Sou péssima leitora de manuais e fico confusa
até mesmo com os tutoriais mais simples. No entanto, em pouco mais de uma hora,
o site Nega Lilu ficou pronto, hospedado na plataforma gratuita Blogspot.
Para o plano de fundo, entre os templates disponíveis, escolhi tomates
vermelhinhos tipo Holandês, em tributo à Lilu.
O texto inaugural do perfil foi:
Sou sua. Sou só. Sua. E no lugar destinado à foto do autor ou autora, optei
pelo grafite feito pela artista colombiana Hera, porque achei que tinha
conexões com a obra, naquele momento. Aliás, sempre pensei isso, desde que dei
de cara com aquela garota ruiva chorosa, em Bogotá. Era como um espelho.
O post O muro
ainda fala por nós esclarece ao leitor o porquê do nome de batismo do blog:
Com o suporte para o laboratório literário
preparado para o início do trabalho, me deparei com a primeira grande decisão a
ser tomada. Como todo o conteúdo do livro é datado – por ser composto por chats
e e-mails trocados entre Laura Passing (Nega) e Brisa Marin (Lilu) –, achei
coerente que sua publicação, no blog, fosse orientada pelo dia e pela hora em
que a correspondência ocorria entre as personagens. De outra forma, durante o
Carnaval (tempo real), o leitor estaria acessando posts relacionados ao final do ano, no tempo diegético (tempo da
obra). Diferentes atmosferas, nada a ver.
Resolvi, por isso, propor o emparelhamento de passado e presente, no espaço virtual, com deslocamento de dois anos.
Resolvi, por isso, propor o emparelhamento de passado e presente, no espaço virtual, com deslocamento de dois anos.
E, sendo assim, a lacuna entre 3 de janeiro e
6 de novembro de 2011, quando os primeiros conteúdos começariam a ser
publicados, precisaria ser preenchida de alguma forma. Diante do problema
criado a partir de minha decisão e a par de que precisaria administrar
ansiedades por 11 meses, naquela madrugada confiei na presença de impertinente
noção de lucidez, uma sensação de iluminação descrita por Rollo May, no livro A Coragem de Criar, que acessei antes da
vida adulta e nunca esqueci.
Hoje, distanciada daquele episódio, imagino que tal escolha tenha passado também pelo desejo de prolongar ao máximo o gozo, ignorando o preço que se paga.
Hoje, distanciada daquele episódio, imagino que tal escolha tenha passado também pelo desejo de prolongar ao máximo o gozo, ignorando o preço que se paga.
Pedi ao gênio da lâmpada que as pessoas almejassem
com veemência a chegada do 6 de novembro de 2011 e que roessem as unhas na
véspera. Para tanto, eu precisaria trabalhar muito.
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