Limites da ficção
sexta-feira, junho 24, 2011Fora dos domínios do realismo fantástico, a Nega não passava de uma sombra no feriadão vazio de alma. Toda aquela tranquilidade era pura procrastinação. Crescia a lista de pendências prioritárias para quem só se animava a atacar os afazeres periféricos.
Acompanhava o olho do furacão a quilômetros de distância enquanto trocava o óleo do carro, desfazia a mala da semana, conferia as notícias da hora, lia Virginia Woolf sobre as circunvoluções do drama elizabetano pra piorar a sensação de improdutividade.
Cinzas vulcânicas provocavam novo fechamento dos aeroportos argentinos e hackers brasileiros honravam ataque antipatriótico quando, enfim, o pensamento da Nega viajou livremente, percorrendo o espaço sideral ao encontro de Nina, em completo isolamento, e de Lilu, ilhada de imensidão.
Na presença de uma e de outra surgia estática, latente e atenta a mirar intenso movimento de rotação em curso. Corpos encasulados girando conscientes sobre o próprio eixo em busca silenciosa de auto-regulação.
Que privilégio era observar a beleza envolta no mistério de processos tão íntimos revelados nem mesmo pela ficção. E a Nega sorria de olhos semicerrados e lacrimosos, respirando densamente, permitindo que o coração galopasse sem rumo.
Que privilégio era observar a beleza envolta no mistério de processos tão íntimos revelados nem mesmo pela ficção. E a Nega sorria de olhos semicerrados e lacrimosos, respirando densamente, permitindo que o coração galopasse sem rumo.
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