Irreversível nos próximos 15 anos

sexta-feira, setembro 30, 2011

Já na primeira e bem-sucedida reunião sobre a edição de Sem Palavras, enquanto me ouvia dizer tanta coisa, concluí que percorrer atenta o extenso conteúdo deste livro de ficção é me deparar com novas possibilidades de repercussão da obra, como a conhecemos. Mantive contato com aquela rara sensação de superação e infinitude que faz fervilhar o sangue na face: deliciosa ilusão que cataloguei nas sessões de psicoterapia. Algo tão estimulante quanto temeroso para a autora que decidiu compartilhar amplamente essa história como estratégia de fechamento de ciclo. 

E criei um monstro. Cultivei um conto inquieto que, primeiro, se tornou romance literário e, depois, encontrou por si meios de aspersão. Como aquelas obras impetuosas, que exercem autonomia transitando do passado para o presente e seguem fazendo projeções de horizontes à revelia do criador.

Mas por hora, no plano mais imediato, ler Sem Palavras é instigante porque volto a me aproximar dos fatos, distanciada como estou, podendo avaliar com mais clareza o contexto sem antigas afetações. Posso enfim tomar decisões editoriais com segurança, ainda que mais solitária do que sempre quis.

A releitura agora também me alerta para o inusitado contido no encontro da Nega com Lilu e me convence, irreversivelmente, que, para além do tempo e do espaço cristalizados entre 6 de novembro de 2009 e 6 de novembro de 2010 ‒ período em que o romance transcorre ‒ o que resta é a Nega. Não resta envolvimento e deve se dissipar aos poucos a energia sexual que permeou inebriante aquele momento, agora gravado na memória dos hormônios.

No corpo da Nega, tal lembrança se manifesta (pelo menos), durante uma quinzena todo mês.  No caso de Lilu, cerca de 72 horas. Nesse período, um dia e meio ela utiliza se convencendo, meio dia se organizando, meio dia seduzindo e, se nas últimas horas de excitação ocorre um empecilho logístico, ao invés de optar pelo motel com peruca divertida, prefere esperar o mês seguinte. Afinal, a Nega estará sempre ali. 

Assim o tempo vai passando e as pessoas, envelhecendo... E o amor vai sendo declarado como algo a constar em atas com potencial para se tornar literatura.

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