A beleza da retirada

quarta-feira, setembro 21, 2011

As palavras de Mike Stipes, vocalista da banda R.E.M, que acaba de anunciar fim de carreira, têm grande harmonia e inteira coesão com as mensagens contidas nas músicas que, nos últimos 30 anos, tocaram tanta gente, em todo lugar. A mim elas novamente tocaram no coração, como o encanto de um déjà vu.

Antes mesmo de compreender as letras geniais, me detive na escuta daquele vocal poderoso e na melodia capaz de sugerir imagens da poesia contida em eventos como o nascimento do fruto, a luz que entra pela janela, o encontro furtivo dos olhares, as bolhas de sabão, o mergulho na piscina, o cruzamento de pensamentos, os pés no chão, a pipa no céu, o vento nos cabelos, insuflando felicidade ao mesmo tempo em que discutia a miséria do ser humano. Porque tudo sempre foi sobre a beleza revelada.

Me tornei grande fã quando descobri que Michael Stipes, Mike Milles e Peter Buck também sabiam sobre isso. Então não seria esta a primeira vez que ouvi deles sobre o afastamento necessário daquilo que construímos e amamos. A retirada é mesmo um dom. Que não cultivo com maestria. E por isso minha dificuldade no entendimento de que tudo tem fim (e pra dizer isso Stipes utiliza ‘must’, palavra que está fora do vocabulário daqueles que não sabem dizer ‘não’, em qualquer idioma).

Foi dito ainda que, apesar de ter sido uma decisão difícil, preferiram conduzir o fim da forma que acham correta e do jeito deles. Por isso este é um adeus sem lamentos. Não há luto. A dor existe, mas é consentida.

Agradeço então pelos momentos felizes e pelas tantas lágrimas que rolaram embaladas por Fall on me, The one I love, The lifting, I’ve been high, Disappear, Everybody hurts, Perfect circle, Drive, Try not to Breathe, Shiny happy people, Man on the moon, Find the river. Tantas. 




R.E.M. é mencionada em dois outros textos deste blog:  
A canção transformada 
Para não esquecer



  

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