As razões da fuga

terça-feira, janeiro 29, 2013


No final do ano passado, a designer de moda, Lara Vaz (foto), que coordena a ação performática A Fuga, concedeu entrevista ao jornal O Hoje. A matéria foi publicada, antecipando a intervenção feita em um supermercado de Goiânia, utilizando trechos da entrevista abaixo, que agora publicamos na íntegra, para quem se interessa em conhecer mais a fundo o conceito que nos move na realização da Fuga.


A Fuga mereceu menção na dissertação de mestrado de Lara Vaz, que coordena o projeto


O Hoje: Gostaria de saber sobre o surgimento da proposta e como ela foi criada.
Lara Vaz: O Projeto A Fuga, surgiu em algumas conversas entre eu e Larissa Mundim, em que conversávamos sobre nossas experiências pessoais e profissionais, Larissa me falava sobre um projeto audiovisual desenvolvido pelo Coletivo Esfinge (o curta-metragem A Fuga), e eu contando um pouco pra ela sobre meu projeto de Mestrado em Design. Houve então o interesse entre ambas as partes de se desenvolver algo que relacionasse a fantasia como algo que possibilitava a transformação dos corpos por meio da roupa no corpo. O que me interessou como sendo uma problemática que atravessa, e faz parte, da minha dissertação que segue a linha em Design, Arte e Moda.


O Hoje: Como foram as primeiras edições? Qual foi a reação das pessoas? Como são definidos os lugares? Quantas pessoas fazem parte da A Fuga?

Lara Vaz: Foram quatro formatos de A Fuga realizadas até o momento, o processo se dá primeiro com a divulgação de um cartaz do evento nas redes sociais, entre twitter, facebook e o blog relacionados a Nega e Lilu e ao Coletivo Esfinge. E assim as pessoas vão conhecendo o projeto, perguntando sobre ele, aderindo ou não à participação. Existe um grupo entre 4 a 5 pessoas que estão na base, e participaram de todas as ações até o momento, mas não sendo algo fixo, o que ocorre é que na própria realização da ação pessoas presentes se interessam pelo projeto e passam a integrar a manifestação ou até aderindo ao grupo para as próximas realizações. E há intenção de que cada ação se dê de maneira diferente uma da outra, sempre com uma proposta que vai sendo definida pouco a pouco em discussão que se dá entre os participantes. Não existem elementos muito fixos, uma vez que os participantes podem variar ou não, busca-se pelo contrário, que seja algo que transmita sentimento de espontaneidade e liberdade uma vez que tem como proposta se transmitir e experimentar a efemeridade. No cartaz sempre o título A Fuga, vem acompanhado da frase: “E não há como alcança-las” que marca o paralelo entre a efemeridade em que se propõem por meio das ações realizadas e a história do conto Sem Palavras. Por se caracterizar como algo temporário, conta com o acaso e suas variações que interferem na produção e resultado das atividades realizadas pelo grupo.

A primeira Fuga ocorreu no Centro de Goiânia, durante o Chorinho de Carnaval


O Hoje: A Fuga, enquanto performance, segundo Larissa Mundim, busca refletir sobre as sensações provocadas, no sujeito e no objeto, pela escolha de uma roupa, e os deslocamentos de tempo e espaço possíveis a partir do uso de fantasia em lugares e ocasiões “não institucionalizados”, como por exemplo, fora do período de carnaval. Qual a relação da performance, das pessoas, dos lugares e da moda?

Lara Vaz: Considerando a performance como sendo um movimento temporário que acontece sobrepondo valores estéticos sobre o normativo do cotidiano no contemporâneo, como algo que cria a possibilidade de se escapar, “fugir” mesmo que momentaneamente das estruturas de padrões instituídos pela moda na padronização dos corpos. Aspecto que gera uma discussão que relaciona o sujeito e a roupa como elemento que contribui para a produção e construção estética, em que inseridos no sistema da Moda no contemporâneo para produção de sentido. Experiência que se estabelece entre quem veste a roupa, considerada como objeto carregado de significados estético, bem como o dialogo que estabelece entre seu corpo e o espaço em questão. Aspectos que interferem e transformam tanto o sujeito, na sua maneira de vestir, quanto o espaço e as pessoas presentes nele por meio de uma interação visual que se estabelece.


A Fuga para uma sessão de cinema provocou maior interação com o público

O Hoje: Como será definida a próxima edição?  

Lara Vaz: Da mesma forma que as primeiras edições, será definida de acordo com os interesses do grupo, a partir das conversas que acontecem nas próprias ações performáticas, e também em reuniões que são feitas para discussão e reflexão sobre o projeto.


O Hoje: As performances se dão a partir do estímulo à improvisação, na possibilidade da mistura de objetos diversos já existentes ou adquiridos com baixo custo. As pessoas se interessam e querem participar ou têm repulsa e indignação?

Lara Vaz: A cada performance realizada, confirma-se a intenção do coletivo de se propor sensações inusitadas que possam romper com o normativo. O que pode ser percebido pela reação das pessoas, pelos olhares curiosos, os sorrisos que se direcionam as ações do grupo, há um grande interesse em entender a proposta do grupo, em que é constantemente abordado com perguntas durante as performances, ou mesmo buscando entender por meio do blog. E assim, algumas passam a integrar o grupo participando, o que confirma sua satisfação por meio de depoimentos nas conversas que se dão, em que se dizem ansiosos pela próxima vez em que irão se submeter a uma experiência desconhecida. Os participantes estão se mostrando dispostos a sentir sensações outras, que fogem de seu cotidiano, na sua interação com o espaço e os objetos de design e moda no processo de vestir.


A quarta Fuga reuniu o grupo performático em um supermercado de Goiânia para as compras 


A próxima edição de A Fuga está marcada para 30 de janeiro, às 11 horas, no Mercado Central de Goiânia. Vista vermelho e venha fugir com a gente!

  
Lara Vaz, 24 anos. Graduação em Design de Moda pela Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás. Mestre em Design pelo Programa de Pós-graduação Stricto-sensu na linha Design, Arte e Moda da Universidade Anhembi Morumbi – São Paulo. Coordenadora do projeto performático A Fuga, do Coletivo Esfinge.

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