Carlos, te amo

domingo, agosto 07, 2011

Naquele domingo solitário, fiz minha visita Macabea a um museu de arte, pela primeira vez. Saí logo cedo de casa para apreciar a cidade vazia, exatamente como fiz hoje. 

A Semana de 22 era minha referência imagética mais presente, adquirida do conteúdo recém estudado para o vestibular, e lá encontrei muitas menções modernistas, executadas, no entanto, na década em que nasci. Circulei sem grande interesse, achando logo que não estava preparada. Foi aos 17 anos e recém chegada à capital que me deparei com Carlos Sena.

Ouvi um chamado vindo do canto esquerdo, assim que entrei na segunda galeria, e me detive absorta por tempo indeterminado diante daquela obra de arte. Duas mulheres andrógenas tão lindas, quanto brancas e magras, conectadas pelo coração por um fio. Cabelos negros tropicalistas adornam testas calvas, algo indígena e berlinense − depois eu viria a saber. Havia entre elas uma intimidade caseira.

Raptada em seguida pelo plano do fundo, examinei o papel de parede centímetro a centímetro, estudando a leveza do gesto do pintor. Próxima demais da tela, fantasiei que sentia o cheiro da tinta. Naquele primeiro encontro eu já sabia muito sobre Carlos Sena, queria então conhecê-lo e propor casamento.

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