De beijo a beijo
terça-feira, agosto 16, 2011Aos 13 anos Laura Passing foi beijada por Rafael Murta, onde o muro fazia a curva, ao lado da caixa de correio. Baixinho e muito fofo, o garoto era mais novo que ela e havia se descoberto um garanhãozinho rockabilly em sua chegada recente à cidade.
As partes do corpo do rapaz que passaram descobertas diante dos olhos da Nega ela conhecia de cor. Aqueles pelos pareciam ter se formado ali sem constrangimento e tamanha desenvoltura sugeria exposição descontraída do bíceps enquanto tomava sorvete.
O contorno polido das unhas e o jeito de segurar na caneta para desenhar uma letra pouco masculina foi o que captou, inicialmente, a atenção da menina-moça. Mas ela caiu mesmo foi pelo seu jeito sensual de andar, que poderia virar dança sempre que estivesse conversando.
Sorria enquanto falava, mexia os quadris, ajeitava os cabelos brilhantes e fazia biquinho no tetê-à-tête, ressaltando a pinta milimetricamente colocada acima do decote do lábio superior. Era um homem espetacular que a Nega amou pelas vísceras, antes e principalmente depois daquele beijo sinuoso, urgente, com gosto de bala gelada.
Rafael nunca foi de Laura Passing. Ele era de ninguém naquele tempo. Aquele primeiro beijo tornou-se o único e foram amigos oficiais, quando a intimidade encontrou motivo para se instalar. A Nega era boa ouvinte e ele escrevia muitos textos, transbordando sentimento desejoso de sexo.
Um dia ‒ sempre existe um dia para quem sabe esperar, mas pode ser só isso ‒ a sós curtindo um som, o garoto rockabilly se colocava na posição do Romeu shakespeariano e a única que o compreendia e que o apoiava era a garota que continuava devorando com os olhos toda sua pele exposta ao sol. Afeita à literatura, a Nega se comparava à cachorra Baleia. Naquele início de noite, rolou beijo louco de fome que saiu da boca e foi ao ventre, encontrou a calcinha e interrompeu a amizade.
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