Corpo estranho 2
domingo, fevereiro 20, 2011Dei flagrante nela olhando a minha bunda.
Da primeira vez eu pensei que ela estivesse conferindo o quanto precisarei malhar para adquirir o tal “bumbum de aço”. O que é perfeitamente normal, uma atividade já prevista para se cumprir o tempo de esteira, sem estressar. Aquele ali deve ter um projeto de carnaval porque ninguém faz abdominais com tanta gana, a jovem senhora parece tão distante, o outro bombadinho não pode fazer nada pela canela fina, uhu... peitão. Mas da segunda vez, me toquei: a academia pode ser um bom lugar para paquerar.
Teoricamente, bons lugares para paquera são aqueles onde encontramos pessoas que têm interesses similares aos da gente. Mas nem sempre é assim. Um casal amigo se conheceu na aula de balé. Ele era o único aluno da turma, também o pior. Havia escolhido a dança clássica apenas porque queria encontrar uma namorada e resolveu fazer uma busca focada.
Como não vou para nenhuma aula de balé, nem para bares lésbicos, vez ou outra arrisco a sorte numa sala virtual de bate papo e, mais recentemente, fico de olho na garota da academia. O nome dela é Marília.
Nos conhecemos quando ela veio do Paraná para cá e foi morar com uma amiga minha, publicitária. O reencontro foi durante uma aula de alongamento postural. É impressionante como ela parece não ter envelhecido um dia sequer. Talvez pelo fato de eu nunca ter reconhecido nela a juventude, porque há 15 anos Marília já sorria muito pouco. Sempre tão na dela.
Soube que se tornou empresária bem sucedida. Trabalha duro e vai relaxar toda noite na academia, lê revistas, come uma salada de frutas. Quando conversamos mais longamente, na sala de musculação, ela me contou que se separou do marido e que andava mal humorada. Então reconheci nela uma timidez atraente que havia me passado despercebida noutras ocasiões.
Se houver uma terceira vez, vou convidá-la para tomar um chá.
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