Segredos

segunda-feira, março 07, 2011

Laura Passing chegou ao Galeão com uma hora de antecedência, vestida de pluma. Queria contar no relógio cada minuto final de espera por Brisa, faria qualquer coisa para não ficar mais sem ela.

Meia dúzia de gatos pingados ressaqueados se espalhavam de qualquer jeito por sobre os estreitos bancos glaciais. Ali, às 5 da manhã, somente a folia dos gringos já havia começado. A cada desembarque, serpentina e caipirinha. Quem quer perder tempo se a fantasia é enlouquecer?

E Lilu surge vestida do jeito que Laura gostava, levando apenas uma mochila nas costas. Uma visão que guardaria para si somente e, de forma estratégica, poderia acessá-la para evocar felicidade nos momentos difíceis da vida.  

Saltaram do ônibus para atravessar os jardins do MAM. Nega perdeu o fôlego e quis chorar diante das pedras redondas colocadas ali por Burle Marx. Acostumada aos lapsos de memória quando acometida de emoções intensas, se recompôs no quarto do hotel, recebendo os carinhos que merecia. Tirou da bolsa uma estatueta de São Jorge combatendo o dragão e presenteou sua amada.

Em Ipanema, caminharam a tarde inteira de mãos dadas, nutridas uma pela outra. Aplaudiram o sol se pôr por trás dos Dois Irmãos. Fizeram amigos instantâneos no postinho, enquanto aguardavam na fila de desesperadas para fazer xixi. Brisa inventava histórias malucas envolvendo o pessoal da Comlurb e Laura ria de tudo aquilo.

No retorno para o hotel, Lilu descansou no ombro da Nega e cochilou imperturbável. Galera cantava funk e o ônibus balançava pra cima, pra baixo, pros lados. “As mina aqui, cumpadi... Tem música pra elas não?”. Estranha satisfação inconfessa. Laura experimentou a noção de onipresença enquanto velava o sono de Brisa com a presteza de um guardião e a delicadeza da seda. Havia paz.

Naquele dia, Lilu não estreou sua fantasia e a Nega resolveu não saber o por quê.


    

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