Amigas

domingo, abril 17, 2011

Já disse que você é uma mulher muito bonita, mas preciso dizer também que estava especialmente bonita na noite de ontem. Era esse o jeito da Nega dizer bem mais para a nova amiga, por quem sentia nos últimos dias um frouxo desejo, o desejo de falar. Antes de se conhecerem, completas estranhas já haviam acumulado assuntos em demasia para serem tratados no tempo disponível. Temas deliciosamente íntimos.
Mais jovem e menos experiente, Nina confessou inseguranças, mas manteve-se observando a movimentação da Nega muito de perto, sem dar um passo atrás, sem evitar o olhar que busca por cumplicidade, sem impedir o toque casual, intensificando a relação de confiança entre elas. As amigas concluíram que tudo aquilo era ousado e instigante, generoso e encantador.
A capacidade de síntese da menina é que trouxe a Nega de lá pra cá. Enquanto ela usava por gosto todas as palavras, Nina escolhia uma só. Algo que passou a diverti-las à medida que se repetia, evidenciando o prazer no exagero de uma e a objetividade carinhosa da outra. 

Divagando inutilmente na manhã de domingo sobre o mistério das coisas, a Nega fantasiou que aquele era o mecanismo encontrado pela amiga para armazenar informações relevantes a partir de códigos sucintos. Se sua memória não era prodigiosa por falta de atenção ou interesse em todas as coisas, seria mais adequado classificá-la como memória sensorial seletiva, porque Nina escuta pelos poros de sua pele sedutora.

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