Entre a brisa e o vendaval

sábado, abril 23, 2011

O bem que Lilu continuava fazendo à Nega era misterioso para aqueles que conviviam com Laura Passing. Brilho nos olhos, verborragia, subjetividade produtiva, café, disposição para tarefas complicadas, manifestações de carinho, esperança daqueles que buscavam aliados para dominar o mundo. A Nega se comportava como uma jovem senhora apaixonada, e rescendia tantas promessas.
Quis tomar uma cerveja com Nina naquele fim de tarde da lua gigante. A amiga disse nem sim nem não ao convite para brincar com fogo e se lambuzar com mel. Deixou-se guiar em silêncio. No bar semi vazio, ela permitia que Laura conduzisse a conversa, rica em parênteses, solta e agradável como a brisa que tocava seus longos cabelos. Olhando fixamente para a rua, a menina monossilábica se alternava entre presente e ausente, exibindo inacreditável perfil contraluz.
Tocada pela beleza, Laura esmerou-se escolhendo as palavras para fazer discurso em defesa da diversidade e dos direitos sociais. Falou de si com fluência. Falou do outro com paixão. Tinha amor pra dar aquela Nega.
Você... Você vem comigo? Perguntou. Eu quero, mas não sei se devo. Respondeu Nina.
O taxista relembrava a infância no garimpo contando saudoso um episódio ambientalmente lamentável, quando Laura tocou Nina presumidamente, acariciando-lhe do pulso à palma da mão. Agora era o vento buliçoso, encanado das ruas de San Sebastian, atravessando por portas abertas.  

You Might Also Like

0 comentários

Subscribe