Corpos calados

sábado, maio 14, 2011

Mais solta e divertida, Nina ia ficando irresistível. Gesticulava contando alguma história e o balanço de seu corpo merecia a atenção de homens e mulheres, pois tamanha era a liberdade.


A Nega não tirava os olhos dela, dos olhos dela. Sabia tudo o que poderia saber sobre a cadência daqueles ombros desnudos, o universo de pintas tonadas e semitonadas que perpetuavam os ares de moleca, o contorno do nariz Encerrabodes de Oliveira. Aquilo que não era aparente também estava ao seu alcance, como se naturalmente enxergasse Nina do avesso.   
A energia pulsante da menina contagiava a Nega velha que, depois de tanto tempo, voltou a gargalhar até a barriga doer. Tão bom. E vez ou outra sentia o sangue aquecer sua face no contato inusitado com a novidade. Dividindo com Nina duas camas de solteiro emendadas, não calava obscenidades e aprendia sobre o silêncio como conquista de intimidade.  
Era muito sexo, mas não era só isso. Horas dilatadas dedicadas ao encontro. A Nega gostava assim. Havia sido conquistada e retribuía com longuíssimas sessões de carinho, cercadas dos cuidados bem vindos nos rituais de iniciação. Confiante no conhecimento intuitivo que tinha de Nina no particular, experimentava todas as delícias, encorajada pela sedutora imaturidade e valentia da amante. Uma coisa muito linda de se viver.    

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