Estreias sem fim

segunda-feira, maio 23, 2011

Aquela mesma suíte de motel havia sido o cenário do último encontro com Morena, que topou acompanhar Laura Passing numa noite em que não seria uma boa ideia deixá-la sozinha. Distanciada no tempo, agora aquela ocasião nada romântica ‒ porque a angústia ocupa o espaço da fantasia ‒ parecia mais um gesto generoso da amiga querida do que um chamado dos hormônios.

O beijo que sempre funcionava as levou para a cama, depois de pouca conversa. Laura estava reticente, invadida por pensamentos alheios e sóbria, depois de algumas cervejas e um baseado. À Morena pertencia a lembrança indelével dedicada somente ao primeiro amor, deliciosa ilusão que ocorre uma só vez na vida daqueles que não são Vinícius de Moraes e a Nega, gente devotada ao primeiro amor platônico, ao primeiro amor consumado e suas variações, igualmente inesquecíveis, originárias de estreias sem fim.

A jovem historiadora, estudiosa dos primórdios das questões de gênero, surgiu na vida de Laura depois de dois amores marcantes não consumados e durante o primeiro casamento. Morena foi única em sua passagem, que teve Coldplay na trilha sonora, especialmente o álbum Parachutes. Por isso, estar naquele motel, naquela suíte, aninhada nos braços de Nina enquanto ouvia Yellow trazia libertação e esperança ao coração de Laura Passing.

Desde então não teve mais notícias da amiga querida, cujo recorrente movimento de saída fora acompanhado de dor e mistério. Envolvida num relacionamento triangular imaturo, ausente de diálogo e cheio de tesão, Morena talvez tenha se sentido como um pedaço de carne supra desejado. E sobre ela havia muitas hipóteses, certamente mais obscuras do que as formuladas acerca de Lilu, ainda aprisionada nas entranhas da Nega!



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