Performance: A fuga (etapa supermercado)

quinta-feira, julho 26, 2012

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O ser humano precisa de não estar sempre no quotidiano, precisa sair do quotidiano e entrar noutros níveis, noutra sensação do mundo. Precisa fazer coisas não produtivas, sair da lógica da produção, ter objectivos diferente desses, precisa voltar a saber que não há só um caminho entorpecedor e mecânico, que a vida é mais sutil do que isso, mais rica de redes e nós de sentido e sensações, de linhas que se cruzam e que baralham e iluminam. (PELBART, 2000, p. 24)

Entre outros aspectos da vida na pós-modernidade, neste fragmento de texto Pelbart discute o impacto provocado na humanidade pela rotina, pela automação das tarefas, pelo ataque das mídias de massa,  pela mediação das novas tecnologias.

Atentos à pesquisa deste estudioso de nosso tempo, é por meio da fantasia ou do processo do fantasiar, que este projeto propõe uma “fuga”, um deslocamento sensorial, visando possibilitar ao sujeito a experimentação e observação, no cotidiano, de transformações sensíveis, passíveis de ocorrer consigo e com o outro, no espaço em que convivem.

Para tanto, nesta ação performática, o Coletivo Esfinge atua em ambiente urbano, o locus partilhado onde tanto se modifica quanto se é modificado. Local também onde, de forma polarizada, se estabelecem relações individuais, introspectivas, solitárias. Vivendo na cidade, exposto ao esforço repetitivo do dia-a-dia, o sujeito se mantém vulnerável a processos massificados que banalizam ritos e que motivam o indivíduo, muitas vezes, a partir de estímulos econômicos conectados à cultura do consumo.

É neste cenário onde se insere A Fuga que, de forma simbólica, propõe perversão da ordem do dia e quebra de padrões sem que o ato performático se caracterize como militante e contestatório, mas que cuide de apontar para esse processo instalado de homogeneização e pasteurização, registrando momentos de desalinhamento com padrões estabelecidos.

Com a colaboração de estudos que perpassam a estética e o design de moda, utilizando a fantasia como elemento e ato de intervenção, A Fuga é fortemente motivada: 1) pela busca de poéticas “perdidas” e “esquecidas” nesse ambiente urbano descrito; 2) pela busca de estratégias que possibilitem o redimensionamento do olhar do indivíduo sobre o mundo e sobre si mesmo; 3) pela descoberta ou retomada de certa autonomia que, começando pelo vestuário, inspira atitude outras para a vida.

Com a proposta das performances aliadas à criação em design de moda, queremos propor espaço e tempo de encantamento, suspensão e desvio. A proposta é de se criar uma estrutura capaz de proporcionar experiências sensoriais para quem veste, podendo ainda ser uma experiência estética-visual para quem observa a fantasia se movimentando em outros corpos.

Características da performance, como a instantaneidade e efemeridade, emprestam qualidades ao ato aqui proposto, no sentido de revelar o desusual de forma desavisada. Sendo assim, as performances se darão a partir do estímulo à improvisação, na possibilidade da mistura de objetos diversos já existentes ou adquiridos com baixo custo. Objetos singulares que, ressignificados enquanto adereço para a performance, podem provocar estranheza, ao ser incorporado ao diálogo com outros elementos para a criação de uma estética única (look).

...  fazer com que o sutil, o efêmero, apareça em gotas na cidade acelerada, que é cada vez mais levada a uma verticalização árida, ao concreto e ao asfalto, em suas pistas duplas sem árvores. (CAPMBELL, Brígida; TERÇA-NADA, Marcelo p. 7, 2011). 


As performances realizadas pelo Coletivo Esfinge são abertas e toda colaboração é bem-vinda. Para participar, basta vestir sua melhor fantasia e juntar-se a nós para uma fuga que, apesar de ser realizada em grupo, trata-se de uma manifestação muito íntima e individual.

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