Sem nome

segunda-feira, agosto 01, 2011

Quando entrei para o Movimento Estudantil uma das primeiras coisas que aprendi foi que na política e na luta pelas causas sociais melhor mesmo é mostrar a cara e nunca manifestar-se apocrifamente. Originária do grego Apokryphos, a palavra significa “oculto” ou “não autêntico” e, inicialmente, foi utilizada para classificar os documentos do início da era Cristã que ficaram excluídos da Bíblia Sagrada por terem sido considerados “ilegítimos”.

Os critérios de legitimidade foram definidos por um pequeno grupo de homens no poder, que habilitaram a si mesmos para eleger o que seria sagrado dentre aquelas escrituras de autoria da inteligência humana, tanto com brilhantismo quanto com limitação. Mas o que era pra ser só um parêntese já está puxando outro assunto, então vamos parar por aqui. O que quero realmente é provocar uma investigação acerca das razões para a manifestação apócrifa por meio do anonimato no blog Nega Lilu.

Dentre os 37 comentários até hoje publicados, dois deles não têm autoria assumida. A possibilidade de comentar livremente o conteúdo aqui disponível caracteriza um ato democrático que integra à obra pessoas que dedicaram seu tempo ao consumo desse trabalho artístico, que é realizado com dedicação e muito carinho.

Pra mim o aviso de novo comentário enviado pelo Blogger sempre chega como um alerta para que eu pare tudo o que estou fazendo, e pensando em fazer, para consumar um encontro com o leitor. Não me esquecerei do misto de susto e realização provocado pelo Paulo que registrou, em 07 de fevereiro, a percepção de que Nega e Lilu são reais para ele, a partir do texto Saudade.

Não tenho dúvidas de que a decisão de publicar um comentário no blog seja fruto de impetuosidade, porque não há obrigações envolvidas nessa relação. Somente essa atitude já confere ao texto do leitor legitimidade plena, se posso dizer isso sobre um espaço de portas totalmente abertas. O leitor pode não suspeitar, mas cada um desses testemunhos aponta, sutilmente, rumos objetivos e subjetivos para a construção diária da história de Nega e Lilu. Acho isso muito bonito, muito próprio de nosso tempo, e me faz crer que o Projeto Esfinge vem cumprindo seus objetivos.

Leitores convictos são os que nos presenteiam com comentários mais freqüentes. Destaque para Rody, companheiro que se manifesta ácido, festivo, estratégico. Tem Simone Rosa que dá o ar da graça quando tocada pela poesia da vida como ela é, que chora com a Nega maluca, que reposiciona Cora Coralina em seu coração ao ler Peladas na ponte. Os comentários também registram a movimentação de Lilu, em junho, ensaiando aproximação e morrendo na praia de Floripa.

E foi da Pipa, em Natal/RN, que Ramon acessou o blog, estimulado pela mensagem na garrafa que encontrou, deixada à deriva durante intervenção do artista plástico Mateus Dutra, que se apropria de fragmentos de texto do conto Sem Palavras, escrito por Nega Lilu. A ação originou repercussões no blog também em Goiânia/GO e Linz, na Austria. Todas assinadas, ainda que por um codinome.

Quando o alerta é para um comentário anônimo eu também paro tudo, mas confesso que preparo a alma para a leitura, porque logo terei mantido contato com o gesto impetuoso que encontrou razões para se materializar sem ser representado. E por si só chega até mim carregado de significado, podendo me violentar, me instigar, me encantar, me seduzir.

A consulta médica dermatológica da Nega narrada em Começa na superfície, uma crônica leve e fluida, bem humorada, fofa e ligeiramente debochada é também “nojenta”, segundo a percepção anônima formalizada no dia seguinte à morte de Lucien Freud. Foi bom saber. O ponto de vista traz diversidade para a convivência em sociedade e isso é muito saudável e não deve incitar a intolerância, que gera violência. 

A onda da flodação (leia Em desagravo) já tinha se quebrado no dia 29 de julho, quando tive meu almoço interrompido pelo alerta Google: Anônimo. Novo comentário em Para não esquecer. Parar tudo, buscar o eixo, posicionar os ombros, abrir o email, ler a mensagem, chorar.

Sagrado é o que eu sinto. Eu, ser humano.

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7 comentários

  1. OK, OK... A Nega não pretende passar o resto da vida escrevendo sob pseodônimo. Revelarei minha verdadeira identidade no Programa do Jô.

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  2. Interessante a idéia de homenagear os comentários. A maior parte dos blogueiros não assume, mas aguarda ansiosamente pelos comentários no blog. O papo é sempre o mesmo: escrevo para exercitar minha criatividade, é um desabafo comigo mesmo, etc., mas não conheço um sequer que não tenha divulgado seu blog ao menos entre os amigos. Não há graça em escrever para você mesmo. Há que haver uma interação com o leitor. Não há porque escrever um conto que não será lido. Nega Lilu é uma de minhas leituras preferidas. "Favoritado" desde a primeira entrada. Beijo enorme do Rody (eu não me manteria anônimo, só queria fazer você "parar tudo", só de sacanagem... risos).

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  3. Parada com arrepio, Rody...rsrs. Beijo, gato.

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  4. Nojetno sim, calúnias e calúnias!!!! invenção de estórias, mentiras, perseguição e muitos adjetivos
    para quem enganou com várias indentidas um ser humano que acreditou, chorou, amou com tanta intensidade e você não existia, simplesmente. Estava em busca de copiar a vida de uma pessoa com todos os bons sentimentos de ter o melhor amigo do mundo. Eu te amei tão intensamente que me vi poeta, compositora, caseira... e construí um lar, um abrigo para os nossos corações, sonhos... nada de malucos, crazy mas de amor, que vc não respeitou, me humilhou, vasculhou a minha vida mas viu errado porque em um certo momento eu tive que fazer o contrário do que sou. Inventei pessoas e fatos e fotos no meu computador, sem o conhecimento de ninguém porque se vc publicasse aquilo, vocês, seria a prova concreta da invasão de privacidade da minha vida e vcs fizeram calúnias de uma pessoa que não existia, como vocês foram prá mim, pessoas que nunca existiram, e vocês são fakes, eu não e vocês me caluniam e não pediram a minha permissão para invadirem a minha casa, o meu lar, cheio de amor, Vocês não sabem o significado disso. Vcs me disseram que tinha assunto prá falar mesmo sem a minha permissão, Agora não tem mais. Vcs ganharam, Eu não tenho mais uma rede de amigos, a maioria amigos e não o que mentiram aqui. Se não têm mais nenhum assunto sobre mim, Parem porque eu não estou mais em meu lar virtual. Me esqueçam. Vcs conseguem?

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  5. Não reconheço nada do que você diz em minha obra. Não acredito que haja relação entre o que escrevo, meus personagens e situações ficcionais com a sua história real ou imaginária. Como forma de expressão, espero que seu comentário tenha lhe feito bem.

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  6. Acho digno que o leitor anônimo à cima tenha se sentido ofendido com sua obra ficcional uma vez que se colocou entre íntima relação Nega e Lilu(traido na realidade talvez sofra e esteja te punindo...)mas me identifico com a Nega! Muito fofa! Bjoo

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  7. Novamente, não reconheço nada do que o leitor Anônimo diz em minha obra. Não acredito que haja relação entre o que escrevo, meus personagens e situações ficcionais com a história mencionada, seja real ou imaginária.

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