Sobre um encontro complementar e impuro

quinta-feira, março 15, 2012


O e-mail enviado por Laura Passing para Brisa Marin, às 13h20 de 14 de março de 2010, não chega a ser esclarecedor da beleza contida no encontro entre o ocre e o verde berilo. E a autora fica com vontade de retocar sem mexer na obra acabada. Felizmente, espertamente, estrategicamente, tudo no universo Nega Lilu pode ser compartilhado, comentado e transformado, em certos níveis. Fazendo então devida apropriação desses poderes, aposto que vale a pena revelar as conexões insuspeitas entre Flicts, Josef Albers e Nega e Lilu.  


Escrito por Ziraldo em 1969, o livro merecedor do Prêmio Internacional de Literatura Infanto-Juvenil Hans Christian Andersen, em 2004, foi um presentinho de Laura, recebido por Brisa durante a viagem de retorno de Curitiba, onde haviam passado três dias juntas, pela primeira vez. A dedicatória foi feita com tinta invisível e dizia algo como: “O encontro de Nega & Lilu é como o de Flicts com o verde berilo, na obra de Josef Albers. Mas não tenho certeza. O que sei mesmo é que te amo. Laura.”


Parênteses para confidenciar com leitores e leitoras que esta é a primeiríssima ocasião em que Laura se refere a Brisa, chamando-a de Lilu. Antes era Flor de Cajueiro, Cajuína, Caju. E sempre será.

Flicts é “uma cor que ninguém gosta, ninguém lê, uma cor que ninguém se lembra”. Metáfora escolhida por Ziraldo para compartilhar uma jornada em busca de lugar no mundo. Na cabeça da Nega, Flicts teria iniciado esse processo de conquista muito antes, quando se encontra com o verde berilo ‒ a mais linda das 36 cores da lapiseira ‒, na obra de Josef Albers.

Sacando grande potencial de contraste harmonioso, o artista alemão, teria reunido Flicts e o verde berilo, num encontro como o de Nega & Lilu: complementar e impuro. O registro está na tela Homage to the Square: Elected, pintada em 1956 por Albers.

Sete anos depois, mas ainda antes de contar sua história por meio da literatura, Flicts volta, um tanto opaco, à paleta do mestre das cores compondo com o azul celeste. Para observadoras como a Nega, Study for Homage to the Square (1963) não é mais do que o reencontro entre as mesmas cores, amadurecidas, reinventadas e rearranjadas no espaço.
 

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