Backstage da performance Nega Lilu (parte 2)

segunda-feira, março 26, 2012


Diferente do trabalho feito por Exú e pela Pomba-Gira, as amarrações do artista plástico Ronan Gonçaves permitem que o sujeito envolvido em material diverso se solte a qualquer momento. Inclusive enquanto é atado, constituindo assim um ato não coercitivo, pelo contrário, um ensaio de fuga.

A primeira parte é a intervenção do artista, mas a performance se consuma à medida que a pessoa amarrada se desvencilha, reagindo ao envolto e dando a ele nova forma, outra destinação, enquanto o corpo vai retornando ao estado anterior, sem nunca mais ser o mesmo.

Desta vez, Ronan Gonçalves escolheu amarrar duas personagens de ficção: Nega e Lilu, existentes no conto Sem Palavras, de Larissa Mundim. Para isso, envelopou Flora Maria e Valeska Gonçalves, as bailarinas que deram fisicalidade para as meninas, no espetáculo Nega Lilu, coreografado por Valeska Gonçalves.
 
Incoerente e passional, pensei que o artista quisesse amarrá-las juntas, negando os rumos originais da história, que têm base na liquidez dos relacionamentos da chamada pós-modernidade. Mas Ronan sabe que o final feliz seria frustrante.
 
Cada uma recebeu então uma amarra, feita do mesmo material. Com páginas encardidas de um livro antiquíssimo, o impressionante resultado estético fez companhia aos signos instalados até o final surpreendente. Porque ao se libertarem das palavras que as envolviam ‒ como que em papéis trocados ‒, uma pisou na casca e a outra a afagou.
 
 
Veja as imagens da performance Nega Lilu, realizada por Ronan Gonçalves, Flora Maria e Valeska Gonçalves. Fotos: Lu Barcelos.

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