A construção do fim

domingo, abril 22, 2012

Na ficção, o conto Sem Palavras foi escrito a quatro mãos por Laura Passing e Brisa Marin, protagonistas do romance literário de mesmo nome, por meio de método positivista: a experiência como a única verdade.

Somente as duas primeiras partes (Capítulo I e Capítulo II) não têm co-autoria, porque foram concebidas apenas por Laura, inspirada na atração que nutria inconfessa pela flor de cajueiro (Brisa). No entanto, o desejo não lhe bastava porque não colaborava, exatamente, na pesquisa. Sem experiência no tribadismo e desconhecendo as idiossincrasias próprias do relacionamento íntimo entre mulheres, o conto escrito sem o conhecimento ainda seria ficcional, mas não obteria subsídios suficientes para se comunicar universalmente ao se consumar realista. E dessa forma, Laura fez daquelas primeiras palavras um instrumento de sedução, convidando Brisa a escrever com ela a história até o fim.

Fazendo uso de recurso metalinguístico (a história dentro da história), foi dessa forma que, como artimanha para escrever ficção de verdade, a autora deu vida a duas colaboradoras, num exercício literário de esquizofrenia esquematizado da seguinte forma: Larissa Mundim (a autora) cria Laura Passing (Nega) e Brisa Marin (Lilu), personagens do romance e, portanto, autoras do conto, que criam Gabriela Comte (Lilu) e Angelina Calle (Nega).

Para quem tem acesso à obra literária, é importante perceber que, a partir da estratégia da autora, a concepção do conto está condicionada à relação estabelecida pelas autoras (Laura e Brisa) que, à medida que se envolvem afetivamente, emprestam tesão e amor para as meninas que co-existem em ambiente mais profundo de ficção (Gabriela e Angelina).

Assim, o romance de ficção Sem Palavras oferece ao leitor o contato com o processo criativo do conto homônimo, como uma moldura que permite derrama. Percebe-se aos poucos que textos construídos no diálogo das personagens, bem como alguns fatos compartilhados nos e-mails e nos chats, são apropriados e dragados para dentro do conto.

Como a história de dentro depende da história de fora para ser finalizada, a inconclusão do conto sempre foi um risco para a autora (Larissa). Porque a obra dita seus caminhos, independente do estilo em que se lança aquele que escreve. Por isso, no mês de abril (no tempo de Sem Palavras), com alguma tristeza no coração, mas admiração inabalável pelo fechamento de ciclos, Laura propõe à Brisa a construção do encerramento, correndo o risco de que o encontro com o fim revelasse insustentabilidade para a relação que se iniciou provocada por ele. 

Leia ou releia Sem Palavras (o conto) agora.  








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