O desenho do canto

sábado, julho 16, 2011

As histórias da infância e juventude de Lilu divertiam e emocionavam a Nega que parava o que estava fazendo e pensando em fazer para ouvir o que flor de cajueiro tinha para contar com os olhos faiscantes. Naquela manhã nascida de pouco, recostou-se nua na cabeceira da cama e viajou pedalando sua bicicleta do guidon alto e longo, cabelos amarrados num rabo de galo, calça jeans dobrada até o meio da canela, ouvindo em alto volume a música que mais gostava. 

Arrancou do peito um samba triste, íntimo, que iluminou profundamente ‒ e ilumina até hoje ‒ a alma da Nega, apreciadora da melancolia. O tempo parou. Rolava paixão incandescente e ficou pra sempre registrada a inflexão da voz buscando fôlego e desenhando caminhos num pescoço perfeito.

Era carnaval na canção, tristeza na avenida e a Nega explodindo de felicidade: Lilu cantava só pra ela!

A partir dessa lembrança sem detalhes contidos no conto Sem Palavras, o texto original levado pelos mensageiros do Projeto Esfinge a Recife (PE), revela algo da polaridade que conectou e desconectou Lilu à Nega, traçando paralelo entre a dedicação particular e a expressão pública romântica demais. 

Conheça amanhã e somente aqui mais um trecho do conto Sem Palavras que integra o circuito de intervenções urbanas, ação Mensagem na Garrafa, do Projeto Esfinge. 

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