Só coisas boas

sexta-feira, julho 01, 2011

Incoerente com tudo o que estava sentindo, a Nega desejava que Nina partisse, uma vez que já estava a quilômetros de distância perseguindo o caminho que escolheu. O silêncio era paz, choro engasgado, saudade e Riacho Doce.


“Estou tentando não expressar muito meus sentimentos porque não vai ajudar em nada”, justificava Nina.  

“Pare de pedir desculpas ou vou até aí e te dou uma taca. E a culpa dessa taca não vai ser sua. Eu quero uma culpa pra mim!!”, respondia a Nega muito séria.

O envolvimento era um risco e as duas sabiam. Mas na infância Nina sempre foi responsável por todas as vidraças quebradas da vizinhança e não sabia evitar o protagonismo da culpa. Sendo assim, desde o princípio, chamou para si responsabilidades. Saia agora da relação bradando que ela adorava o jeito da Nega fazer carinho, mas que havia escolhido interromper uma história linda porque não se pode ter tudo o que se deseja de uma só vez.

“Fico aqui, em alguns momentos de reflexão, com uma intuição (ou será apenas o desejo?) de que nossos caminhos ainda vão se cruzar. Mas hoje isso deve ser assim mesmo”, sentenciou em seu último email.

A intensidade do encontro entre as amantes dificultava aquele adeus turbulento sem querer ser adeus em que Nina se revelava na essência e em que a Nega respirou aliviada fora de um relacionamento triangular. O arrefecimento não perdurou por muito tempo e o que ficou registrado foi a concretude da ligeira sensação de que daquela vez pudesse dar certo.

Pessimamente avaliada pelo marido de sua querida, a Nega não se abalava com mau agouro porque sabia que era do bem e que havia atravessado a vida da menina para instalar coisas boas e somente isso Nina havia feito por ela.  

Foi embora levando Vinícius (o filme) e todos os Kieslowskis da Nega, que lhe apresentou sua sósia Björk, cujos CDs não chegou a emprestar. 

Nina deixou tanta coisa...

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